Apocalipse 14, Versículos 1-5 – E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, que em sua testa tinham escrito o nome dele e o de seu Pai. E ouvi uma voz do céu como a voz de muitas águas e como a voz de um grande trovão; e uma voz de harpistas, que tocavam com a sua harpa. E cantavam um como cântico novo diante do trono e diante dos quatro animais e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra. Estes são os que não estão contaminados com mulheres, porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai. Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro. E na sua boca não se achou engano; porque são irrepreensíveis diante do trono de Deus.
Uma característica admirável da palavra profética é que nela o povo de Deus nunca é levado a posições de prova e dificuldade e aí abandonado. Levando-os a cenas de perigo, a voz da profecia não cessa aí, deixando-os a aguardar o seu destino em dúvida, talvez em desespero, quanto ao resultado final, mas leva-os até ao fim e mostra-lhes a saída em cada conflito.
Os primeiros cinco versículos de Apocalipse 14 são um exemplo disto. O capítulo 13 terminou apresentando o povo de Deus, um grupo pequeno e aparentemente fraco e indefeso, em conflito moral com os mais fortes poderes da Terra, que o dragão consegue mobilizar para o seu serviço. Um decreto é publicado, pelo poder supremo do país, mandando que adorem a besta e recebam a sua marca, sob pena de morte se recusarem cumpri-lo. Que pode o povo de Deus fazer em tal conflito e em tal extremidade? Que será feito dele? Olhemos com o apóstolo para a cena que se segue no programa e que vemos? O mesmo grupo no Monte Sião com o Cordeiro – um grupo vitorioso, tocando em harmoniosas harpas o seu triunfo na corte do Céu. É-nos, assim, assegurado que, quando chegar o tempo do nosso conflito com o poder das trevas, a libertação não só é certa, mas imediata.
Os 144.000. – Cremos que os 144.000 vistos aqui sobre o Monte Sião são os santos que em Apocalipse 13 nos foram apresentados como objetos da ira da besta e de sua imagem.
São idênticos aos selados em Apocalipse 7, que já mostramos serem os justos vivos quando Cristo vier a segunda vez.
Foram “comprados dentre os homens” (versículo 4), expressão que só pode ser aplicável aos que são trasladados dentre os vivos. Paulo trabalhava para ver se de algum modo podia chegar à ressurreição dos mortos (Filip. 3:11). Esta é a esperança dos que dormem em Jesus: uma ressurreição dos mortos. Uma redenção dentre os homens, dentre os vivos, deve significar uma coisa diferente, a saber a trasladação. Por isso os 144.000 são os santos vivos, que serão quando produzir-se a segunda vinda de Cristo. (Ver o comentário sobre o versículo 13).
Em que Monte Sião viu João este grupo? No Monte Sião celeste, porque a voz dos harpistas, sem dúvida proferida por estes mesmos, é ouvida do céu. O mesmo Sião onde o Senhor fala ao Seu povo em íntima relação com a vinda do Filho do homem (Joel 3:16; Heb. 12:26-28; Apoc. 16:17). Aceitar o fato de que há um Monte Sião no Céu e uma Jerusalém celeste, seria um antídoto poderoso para a falsa doutrina de um segundo tempo de graça e um milênio de paz na Terra.
Mais alguns pormenores acerca dos 144.000, além dos que foram apresentados no capítulo 7, merecem nossa atenção:
Eles têm o nome do Pai na sua fronte. No capítulo 7 diz-se que têm o selo de Deus na sua fronte. Assim, é-nos dada uma chave importante para compreender o que é o selo de Deus, porque imediatamente percebemos que o Pai considera o Seu nome como o Seu selo. É, portanto, o selo da Lei aquele mandamento da Lei que contém o nome de Deus. O mandamento do sábado é o único que contém o título descritivo que distingue o verdadeiro Deus de todos os deuses falsos. Onde quer que Ele estivesse, aí estava o nome do Pai (Deut. 12:5, 14, 18, 21; 14:23; 16:2, 6, etc.). portanto, todo o que guarda este mandamento tem, por conseguinte, o selo do Deus vivo.
Eles cantam um novo cântico que ninguém mais pode aprender. Em Apocalipse 15:3 ele é chamado o cântico de Moisés e o cântico do Cordeiro. O cântico de Moisés, como podemos ver em Êxodo 15, celebrava uma libertação. Portanto, o cântico dos 144.000 é o cântico da sua libertação. Ninguém mais o pode cantar, porque nenhum outro grupo terá tido experiência semelhante à sua.
“São os que não estão contaminados com mulheres.” Na Escritura uma mulher é o símbolo de uma igreja. Uma mulher virtuosa representa uma igreja pura. Uma mulher corrupta, uma igreja apóstata. É, pois, uma característica deste grupo, que no tempo da sua libertação não estão contaminados, ou não estão relacionados com as igrejas corrompidas da Terra. Não devemos compreender, porém, que nunca tiveram nenhuma relação com essas igrejas, porque foi apenas por algum tempo que se contaminaram com elas. Em Apocalipse 18:4 vemos um apelo ao povo de Deus, que está ainda em Babilônia, para sair, para que não seja participante dos seus pecados. Atendendo a esse apelo, e ao separar-se dela, escapam da contaminação dos seus pecados. Assim se passa com os 144.000. Embora alguns deles estivessem alguma vez relacionados com igrejas corruptas, abandonam essa relação quando se tornaria pecado continuar por mais tempo.
Seguem o Cordeiro por onde quer que Ele vá. Entendemos que se diz isto deles no seu estado remido. São os companheiros especiais do seu Senhor glorificado no reino. Acerca do mesmo grupo, lemos: “Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará e lhes servirá de guia para as fontes das águas da vida.” (Apoc. 7:17).
São “primícias para Deus e para o Cordeiro”. Este termo é aplicado a diferentes seres representando condições especiais. Cristo constitui as primícias como antítipo do molho movido. Os que primeiro receberam o Evangelho são chamados por Tiago “primícias” de certa classe (Tiago 1:18). Assim também os 144.000, colhidos para o celeiro celeste aqui na Terra durante as perturbadas cenas dos últimos dias, trasladados para o Céu sem ver a morte, e ocupando uma posição preeminente, são chamados neste sentido primícias para Deus e para o Cordeiro. Com esta descrição dos 144.000 triunfantes, termina a série profética que começou com o Apocalipse 12.
Versículos 6, 7 – E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre a terra, e a toda nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, porque vinda é a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.
A mensagem do primeiro anjo. – Nestes versículos outra cena e outra cadeia de acontecimentos proféticos é apresentada. Sabemos que assim é, porque os versículos anteriores deste capítulo descrevem um grupo dos remidos no estado imortal, uma cena que constitui uma parte da cadeia profética que começa com o primeiro verso de Apocalipse 12, e termina essa cadeia de acontecimentos, porque nenhuma profecia vai além do estado imortal. Sempre que numa série de profecia somos levados até o fim do mundo, sabemos que esta série termina aí, e que o que a seguir é apresentado pertence a uma nova série de acontecimentos. O Apocalipse, em particular, é composto destas séries de cadeias proféticas independentes, como já foi apresentado, de cujo fato, antes deste, tivemos já vários exemplos.
As mensagens descritas nestes versículos são conhecidas por “as mensagens dos três anjos de Apocalipse 14”. Estamos justificados em lhes chamar o primeiro, segundo e terceiro, pela própria profecia, porque o último é distintamente chamado “o terceiro anjo”, donde se conclui que o precedente era o segundo anjo, e o anterior, o primeiro anjo.
Estes anjos são evidentemente simbólicos, porque a obra que lhes é atribuída é a de pregar o Evangelho eterno ao povo. Mas a pregação do Evangelho não foi confiada a anjos literais, e sim a homens que são responsáveis por este sagrado depósito colocado em suas mãos. Portanto, cada um destes três anjos simboliza os que são enviados com a missão de tornar conhecidas aos semelhantes as verdades especiais que constituem a essência destas mensagens.
O anjos literais estão vivamente interessados na obra de graça entre os homens, sendo enviados para servir em favor daqueles que hão de herdar a salvação. E como há ordem em todos os movimentos e planos do mundo celeste, talvez não seja mero produto da fantasia supor que um anjo literal tenha o cargo e a supervisão da obra de cada mensagem (Heb. 1:14; Apoc. 1:1; 22:16).
Vemos nestes símbolos o flagrante contraste que a Bíblia estabelece entre as coisas terrenas e as celestiais. Sempre que é preciso representar governos terrestres – até os melhores dentre eles – o símbolo mais apropriado que se pode encontrar é uma fera. Mas quando é necessário apresentar a obra de Deus, um anjo revestido de beleza e cingido de poder é escolhido para a simbolizar.
A importância da obra apresentada em Apocalipse 14:6-12 será evidente para quantos queiram estudá-la com atenção. Sempre que estas mensagens são proclamadas devem, por sua própria natureza, constituir o grande tema de interesse para essa geração. Não queremos dizer que a grande massa da humanidade que então vive lhes preste atenção, porque em cada época do mundo a verdade presente para esse tempo tem sido geralmente desprezada, mas constituem o tema a que prestarão mais viva atenção os que compreenderem o que afeta os seus mais altos interesses.
Quando Deus manda Seus ministros anunciar ao mundo que vinda é a hora do Seu juízo, que Babilônia caiu, e que todo aquele que adorar a besta e a sua imagem beberá do vinho que se deitou não misturado no cálice da Sua ira, pronuncia a ameaça mais terrível que se encontra nas Escrituras, e ninguém, a não ser com perigo da sua alma, pode considerar estas advertências como não essenciais, e passá-las por alto com negligência e desprezo. Daí a necessidade do mais fervoroso esforço em cada época para compreender a obra do Senhor, a fim de não perdermos o benefício da verdade presente.
Este anjo de Apocalipse 14:6 é chamado “outro anjo”, porque João tinha visto antes um anjo voar pelo meio do céu de um modo semelhante, segundo descrito no capítulo 8:13, proclamando que as últimas três, da série de sete trombetas, eram trombetas de ais. (Ver os comentários do capítulo 8:13).
O tempo da mensagem. – O primeiro ponto a ser determinado é o tempo desta mensagem. Quando se pode esperar com fundamento a proclamação: “Vinda é a hora do Seu juízo”? A possibilidade de que seja em nossos dias convida-nos a examinar este assunto com séria atenção. Mas a prova positiva de que assim é se verá no desenvolvimento deste argumento, e isso devia acelerar cada pulso e bater alto cada coração com o senso da importância vital desta hora.
Apenas três posições são possíveis quanto ao tempo para o cumprimento desta profecia. Estas posições são: (1) Que esta mensagem foi dada no passado, nos dias dos apóstolos ou nos dias dos reformadores; (2) que há de ser dada num tempo futuro; ou (3) que pertence à geração atual.
Vejamos, em primeiro lugar, a primeira possibilidade. A própria natureza da mensagem se opõe à idéia de que possa ter sido dada nos dias dos apóstolos. Eles não proclamaram que tinha vindo a hora do juízo de Deus. Se o tivessem feito, não teria sido verdade, e a sua mensagem seria manchada com a infâmia da falsidade. Eles tinham algo a dizer acerca do juízo, mas indicavam o seu cumprimento para um futuro indefinido. De acordo com as próprias palavras de Cristo, o juízo final de Sodoma e Gomorra, Tiro, Sidom, Corazim e Capernaum, foi localizada em um futuro indefinido (Mat. 10:15; 11:21-24). Paulo declarou aos supersticiosos atenienses que Deus tinha determinado um dia em que haveria de julgar o mundo (Atos 17:31). Ele falou perante Félix "da justiça, da temperança e do juízo vindouro" (Atos 24:25). Escreveu aos romanos acerca do dia em que Deus haveria de julgar os segredos dos homens por Jesus Cristo (Romanos 2:16). Chamou a atenção dos coríntios para um tempo em que todos havemos de comparecer perante o tribunal de Cristo (2 Cor. 5:10). Tiago escreveu aos irmãos dispersos que haviam de ser julgados, num indefinido tempo futuro, pela Lei da liberdade (Tiago 2:12). E tanto Pedro como Judas falam dos primeiros anjos rebeldes como reservados para o juízo do grande dia, naquela altura ainda no futuro (2 Pedro 2:4; Judas 6), para o qual os ímpios deste mundo estão também reservados (2 Pedro 2:9). Quão diferente de tudo a solene proclamação ao mundo de que "vinda é a hora do Seu juízo", proposta pela difusão da mensagem consideramos!
Desde os dias dos apóstolos nada ocorreu que pudesse interpretar-se como o cumprimento desta primeira mensagem, até que chegamos à Reforma do século XVI. Alguns asseguram que Lutero e seus colaboradores deram a primeira mensagem, e que as duas mensagens seguintes foram apresentadas desde então. Os fatos históricos é que vão decidir a questão Onde estão as provas de que os reformadores fizeram tal proclamação? Quando e onde despertaram o mundo com a proclamação de que tinha vindo a hora do juízo de Deus? Não encontramos registrado que tal fosse a preocupação das suas pregações.
“Alguns intérpretes supõem que a mensagem supracitada (Apoc. 14:6-11) refere-se à época da Reforma e que se cumpriu na pregação de Lutero e dos outros eminentes personagens que foram suscitados naquele tempo para proclamar os erros da igreja romana. . . . Mas me parece que estas interpretações encontram objeções insuperáveis. O primeiro anjo tem por missão pregar o Evangelho de maneira muito mais extensa do que os reformadores puderam fazer. Longe de o pregarem a todos os habitantes da terra, nem sequer o pregaram em toda a Europa cristã. A Reforma não pôde penetrar em alguns dos reinos mais extensos da jurisdição romana. Ficou totalmente excluída da Espanha, Portugal e Itália. Não se poderia também dizer com lógica e veracidade no tempo da Reforma que tinha vindo a hora do juízo de Deus. . . . A hora do juízo de Deus é um tempo bem conhecido e definido com exatidão nas profecias de tempo em Daniel e Apocalipse.” – William Cuninghame, A Dissertation on the Seals and Trumpets of the Apocalypse, pág. 255.
“Eu espero – disse Lutero – que o último dia do juízo esteja longe, e na verdade estou convicto de que não tardará mais trezentos anos; porque a Palavra de Deus diminuirá e se obscurecerá pela falta de pastores fiéis e servos de Deus. Em breve se ouvirá a voz: ‘Eis aqui, é vindo o esposo.’ Deus não quer nem pode tolerar muito mais este mundo ímpio; deve apresentar-se com o dia terrível e castigar o desprezo por sua Palavra.” – Martinho Lutero, Familiar Discourses, págs. 7, 8.
Estes registros são decisivas no que respeita aos reformadores. E como as considerações precedentes bastam para impedir a aplicação da mensagem do juízo ao passado, vejamos a opinião que a localiza numa época futura, além do segundo advento. O motivo apresentado para situar a mensagem nesse tempo é o fato de que João viu o anjo voar pelo meio do céu, logo depois de ter visto o Cordeiro no Monte Sião com os 144.000, que é um acontecimento futuro. Se o livro do Apocalipse fosse uma profecia consecutiva, este raciocínio teria peso, mas como consta de uma série de cadeias proféticas independentes, e como já mostramos que uma dessas cadeias termina com o versículo 5 deste capítulo, e começa uma nova com o versículo 6, essa opinião não pode ser defendida. Para demonstrar que a mensagem não pode ter o seu cumprimento numa época futura, basta-nos observar o seguinte:
A comissão apostólica estendia-se apenas até a "ceifa", que é o fim do mundo. (Mat. 13:39). Portanto, se este anjo com o "Evangelho eterno" vem depois desse acontecimento, prega outro evangelho, e sujeita-se ao anátema de Paulo em Gálatas 1:8.
A segunda mensagem não pode, evidentemente, ser dada antes da primeira, mas a segunda mensagem anuncia a queda de Babilônia, e depois disso ouve-se uma voz do céu dizendo: "Sai dela, povo Meu". Quão absurdo localizar isto depois do segundo advento de Cristo, visto que todo o povo de Deus, tanto vivos como mortos, é nesse tempo arrebatado para encontrar o Senhor nos ares para estar sempre com Ele. (1 Tess. 4:17). Depois disso não podem ser chamados a sair de Babilônia. Cristo não os leva para Babilônia, mas para a casa do Pai, onde há muitas moradas (João 14:2, 3).
Uma olhada à mensagem do terceiro anjo, que deve cumprir-se numa época futura no caso de a primeira também o ser, mostra ainda mais claramente o absurdo desta opinião. Esta mensagem adverte contra a adoração da besta, que se refere, sem dúvida, à besta papal. Mas a besta papal é destruída e entregue às chamas devoradoras quando Cristo vem (Dan. 7:11; 2 Tess. 2:8). É então lançada no lago de fogo, para não mais perturbar os santos do Altíssimo (Apoc. 19:20). Para que defender o absurdo de situar a mensagem contra a adoração da besta num tempo em que a besta cessou de existir e o seu culto é impossível?
Em Apocalipse 14:13 é pronunciada uma bênção para os mortos que "desde agora" morrem no Senhor, isto é, desde o tempo em que a terceira mensagem começa a ser dada. Esta é uma demonstração total do fato de que a mensagem tem de ser dada antes da primeira ressurreição, porque depois desse acontecimento todos os que têm uma parte ali, já não podem voltar a morrer. Portanto, descartamos esta opinião acerca da época futura, como antibíblica e impossível.
A hora do juízo dá uma nota distinta. – Estamos preparados agora para examinar a terceira opinião, a saber, que a mensagem pertence à geração atual. A consideração sobre as duas propostas anteriores ajuda a estabelecer a presente proposição. Se a mensagem não foi dada no passado, e não pode ser dada no futuro depois da vinda de Cristo, onde poderia localizar-se senão na geração atual, se estamos nos últimos dias, precisamente antes da vinda de Cristo? Com efeito, a própria natureza da mensagem a limita à última geração da humanidade. Proclama que é vindo o juízo de Deus. O juízo pertence à conclusão da obra de salvação em favor do mundo, e a proclamação que anuncia a sua aproximação só pode, portanto, fazer-se quando nos aproximamos do fim. Demonstra-se ainda que a mensagem pertence ao tempo atual, ao provar-se que este anjo é idêntico ao anjo de Apocalipse 10, que proclama a sua mensagem nesta geração. Sobre a identidade do primeiro anjo de Apocalipse 14 e do anjo de Apocalipse 10, veja as explicações do capítulo 10.
O apóstolo Paulo que dissertara diante do governador romano Félix sobre “o juízo vindouro”, proclamou aos ouvintes do Areópago que Deus “estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão que destinou” (Atos 17:31).
A profecia dos 2.300 anos de Daniel 8 apontava inequivocamente a esta hora do juízo. Este período profético, o mais longo das Escrituras, vai de 457 a.C. até 1844 d.C Então, como já vimos ao estudar a profecia de Daniel, o santuário ia ser purificado. Esta purificação, de acordo com o serviço típico de Levítico 16, era a obra final de expiação. Que a obra do último dia do ano no serviço típico era uma figura do juízo é algo que se deduz das citações seguintes:
“O grande Dia da Expiação, com seus serviços tão peculiares e impressionantes, caía no décimo dia do sétimo mês. . . . Era um dia em que todo homem era chamado a jejuar e afligir a sua alma; a refletir com tristeza e contrição sobre seus caminhos pecaminosos e seus pecados. . . . Quem não se afligisse assim era ameaçado com a pena de morte, com castigo direto da mão de Jeová.” – Albert Whalley, The Red Letter Days of Israel, pág. 101.
“Notemos bem a data exata do Dia da Expiação – caía no décimo dia do sétimo mês. O Jubileu era indicado também no mesmo dia e era anunciado pelo toque da trombeta solene, símbolo de que Deus se aproximava para julgar.” – Idem, pág. 116.
“Supunha-se que no dia de Ano Novo (1º de Tishri) eram escritos os decretos divinos, e que no Dia da Expiação (10 de Tishri), eram selados, e por isso esses dez dias eram chamados ‘os Dias Terríveis’, ou os ‘Dez Dias de Penitência’. Tão terrível era o Dia da Expiação que um livro do ritual judaico nos diz que os próprios anjos iam de um lugar para o outro com temor e tremor, dizendo: ‘Eis que é vindo o Dia do Juízo’.” – F. W. Farrar, The Early Days of Christianity, págs. 237, 238.
“ ‘Deus sentado em seu trono para julgar o mundo . . . abre o Livro dos Anais, lê-o e ali se encontra a assinatura de cada homem. Soa a grande trombeta; ouve-se uma suave voz: ‘Este é o dia do juízo.’ . . . No Dia do Ano Novo escreve-se o decreto; no Dia da Expiação fica selado quem viverá e quem morrerá.’ ” – Jewish Encyclopedia, vol. 2, pág. 286.
Alguém perguntaria se uma mensagem desta natureza foi dada ao mundo ou se ela está sendo hoje proclamada. Cremos que o grande movimento do segundo advento do século passado corresponde exatamente à profecia.
O segundo advento de Cristo é outra nota distinta. – Em 1831 Guilherme Miller, de Low Hampton, Nova York, por um fervoroso e sólido estudo das profecias, foi levado à conclusão de que a dispensação cristã estava perto do seu fim. Colocou o termo, que pensava ocorrer no fim dos períodos proféticos, por volta de 1843. Estendeu depois esta data ao outono de 1844. Suas investigações foram um estudo perseverante e lógico das profecias porque adotou uma sadia regra de interpretação, que se encontra na base de toda reforma religiosa, e de todo avanço no conhecimento profético. Tal regra consiste em tomar toda a linguagem das Escrituras, como a de qualquer outro livro, em sentido literal, a não ser que o contexto ou as leis da linguagem requeiram que se entenda em sentido figurado, e deixar que uma passagem da Escritura interprete outra passagem. É verdade que ele cometeu um erro em um ponto vital, como explicaremos adiante, mas, em princípio, e em grande número de pormenores, foi correto. Seguiu o caminho correto e fez um grande avanço em comparação com todos os sistemas teológicos do seu tempo. Quando começou a propagar seus pontos de vista, eles foram recebidos favoravelmente, e ocorreram grandes despertamentos religiosos em diferentes partes do país.
Em breve uma multidão de colaboradores se reuniu em volta de sua bandeira. Entre eles se podem mencionar homens como F. G. Brown, C. Fitch, Josias Litch, J. V. Himes e outros, que eram então eminentes pela piedade e homens de influência no mundo religioso. O período dos anos de 1840 e 1844 foi de intensa atividade e grande progresso nesta obra. Foi proclamada ao mundo uma mensagem com todas as características de um cumprimento da proclamação de Apocalipse 14:6, 7. Foi na verdade aquele Evangelho do reino que Cristo declara devia ser pregado a todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então viria o fim (Mateus 24:14). O cumprimento de ambas estas passagens supõe a pregação da iminência do fim. O Evangelho não podia ser pregado a todas as nações com um sinal do fim, se não fosse compreendido como tal, e a proximidade do fim era, pelo menos, um dos seus temas principais. O Advent Herald de 14 de dezembro de 1850 exprimiu bem a verdade sobre este ponto na seguinte linguagem:
“Como indicação da aproximação do fim havia, porém, de se ver outro anjo voar pelo meio do céu, com o Evangelho eterno, para o proclamar a todos os que habitam sobre a Terra, e a toda nação, tribo, língua e povo (Apocalipse 14:6). A missão deste anjo devia ser o mesmo Evangelho que tinha sido antes proclamado, mas relacionado com ele estava o motivo adicional da proximidade do reino, ‘dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-Lhe glória; porque vinda é a hora do Seu juízo: e adorai Aquele que fez o Céu, e a Terra, e o mar, e as fontes das águas.’ Versículo 7. A pregação simples do Evangelho, sem anunciar a proximidade não podia cumprir esta mensagem.” – The Advent Herald, 14/12/ 1850, pág. 364.
As pessoas empenhadas neste movimento supunham ser ele um cumprimento da profecia, e afirmavam estar apresentando a mensagem de Apocalipse 14: 6, 7.
“Gostaria de dizer-lhes esta noite: ‘Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é vinda a hora do seu juízo’, em um sentido estrito e literal. Estamos agora naquele último dia sobre o qual o apóstolo diz: ‘Pelo qual sabemos que é o último tempo.’ . . . Encontramo-nos no anoitecer daquele dia, estamos em sua última hora; e está muito perto, muito perto, mesmo às portas. Meus estimados ouvintes, rogo-lhes que considerem que está próximo, à própria porta, segundo todos os que estudaram este assunto e buscaram o ensino de Deus; . . . os quais declaram unanimemente que . . . o reino de Cristo se aproxima.” – J.M. Campbell, The Everlasting Gospel.
“Apocalipse 14 representa o anjo como voando no meio do céu, retendo o Evangelho eterno para pregar aos que habitam na terra, a toda nação, tribo, língua e povo. Ao verificar-se um acontecimento indicado por este símbolo, o dia do juízo está iminente, porque o anjo clama a todos os homens: ‘Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque vinda é a hora do seu juízo’.” – John Bayford, The Messiah Kingdom, pág. 283.
“Todos têm o dever de proclamar o convite: ‘Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque vinda é a hora do seu juízo’, mas é de modo mais especial o dever dos ministros de Deus.” – J.W. Brooks, Elements of Prophetical Interpretation, págs. 166, 167.
Mas o movimento geral acerca do segundo advento de Cristo e a proclamação de que “vinda é a hora do Seu juízo”, não se limitou ao hemisfério ocidental. Foi mundial. Realizou sob este aspecto a proclamação do anjo “a toda nação, e tribo, e língua e povo.” Mourant Brock, clérigo anglicano, que promoveu energicamente o movimento adventista nas Ilhas Britânicas, disse:
“Não é apenas na Grã-Bretanha que a expectativa da próxima vinda do Redentor é alimentada, e que é levantada a voz de advertência, mas também na América, Índia, e no continente da Europa. Um de nossos missionários alemães relatou ultimamente que em Wurtemberg, há uma colônia cristã de várias centenas de pessoas que se distinguem por esperar o segundo advento. E um ministro cristão que vem das praias do mar Cáspio me disse que existe a mesma expectativa diária entre os de sua nação. Falam a respeito dela como ‘dia do conforto’. Em uma pequena publicação intitulada ‘O Milênio’, o autor diz que entende que na América cerca de trezentos ministros da palavra estão assim pregando ‘este evangelho do reino’, enquanto neste país – acrescenta – cerca de setecentos da Igreja Inglesa estão levantando o mesmo clamor.” – Mourant Brock, Glorification, nota ao pé das págs. 10, 11.
O Dr. José Wolff viajou na Arábia, através da região habitada pelos descendentes de Hobabe, sogro de Moisés. Fala assim de um livro que viu no Yêmen:
“Os árabes deste lugar têm um livro chamado ‘Seera’, que trata da segunda vinda de Cristo e do Seu reino em glória. No Yêmen . . . passei seis dias com os recabitas. . . . ‘Não bebem vinho, não plantam vinhas, não semeiam, e vivem em tendas, e lembram-se das palavras de Jonadabe, filho de Recabe’. Em sua companhia estavam filhos de Israel da tribo de Dã, que residem perto de Yerim, em Hadramaut, que esperam, como os filhos de Recabe, a breve vinda do Messias nas nuvens do céu.” – José Wolff, Narrative of a Mission to Bokhara, págs 40, 42.
D. T. Taylor fala nos seguintes termos da ampla difusão do sentimento do Advento:
“Em Wurtemberg há uma colônia cristã com algumas centenas de membros, que aguardam o breve advento de Cristo. Também outra de igual crença nas margens do Cáspio. Os Molokaners, grande corpo de dissidentes da Igreja Grega Russa, que reside nas margens do Báltico, povo muito piedoso, de quem se diz que ‘tomando a Bíblia por único credo, a única norma de sua fé são as Sagradas Escrituras!’, são caracterizados pela ‘expectativa do reino imediato e visível de Cristo sobre a Terra’. Na Rússia a doutrina da vinda e reino de Cristo é pregada em relativa extensão e aceita por muitos da classe operária. Tem sido extensamente ativada na Alemanha, em particular ao sul, entre os morávios. Na Noruega mapas e livros sobre o Advento têm circulado amplamente, e a doutrina foi recebida por muitos. Entre os tártaros, na Tartária, prevalece a expectativa do advento de Cristo por esse tempo. Publicações inglesas e americanas sobre esta doutrina têm sido enviadas para a Holanda, Alemanha, Índia, Irlanda, Constantinopla, Roma e para quase todas as estações missionárias do globo. ...
“O Dr. José Wolff, segundo as anotações em seu diário entre os anos 1821 e 1845, proclamou o breve advento do Senhor na Palestina e Egito, nas costas do Mar Vermelho, na Mesopotâmia, na Criméia, Pérsia, Turquistão, Bokara, Afeganistão, Cachemira, Hindustão, Tibete, Holanda, Escócia, Irlanda, Constantinopla, Jerusalém, Santa Helena e a bordo de seu barco no Mediterrâneo e na cidade de Nova York a todas as denominações. Ele declara que pregou entre judeus, turcos, maometanos, persas, hindus, caldeus, yeseedes, sírios, sabeus, paxás, xeques, xás, aos reis do Organtsh e Bucara, a rainha da Grécia, etc. De seus extraordinários labores diz o Investigador: ‘Ninguém, talvez, tenha dado maior publicidade à doutrina da segunda vinda de Jesus Cristo do que este conhecido missionário ao mundo. Onde quer que vá, proclama o próximo advento do Messias em glória’. Aonde quer que vá proclama o iminente advento do Messias em glória.’ ” – D. T. Taylor, A Voice of the Church, págs. 342, 344,
Outro eminente escritor do grande movimento do advento diz:
“Vejo que a advertência do Senhor foi ouvida de fato, e se elevou a voz na igreja naquele tempo, com referência à proximidade do advento é inegável. Pode-se dizer, sem temor de exagerar, que desde 1828 até 1833 um maior número de folhetos ou trabalhos destinados a tratar o tema do advento e declarar sua proximidade vieram a público e foram publicados nos principais jornais religiosos da época que o que aparecera anteriormente em qualquer século de toda a época decorrida desde o tempo dos apóstolos; sim, e provavelmente mais que em todos os séculos desde então.” – William Cuninghame, A Dissertation on the Seals and Trumpets of the Apocalypse, pág. 443.
O erro cometido pelos adventistas em 1844 não se referia ao tempo, como se demonstrou pelo argumento sobre as setenta semanas e os 2.300 dias de Daniel 8 e 9. Referia-se à natureza do acontecimento a ocorrer no fim daqueles dias, segundo se mostrou no argumento sobre o santuário em Daniel 8. Supondo que a Terra era o santuário, e que a sua purificação devia realizar-se pelo fogo ao manifestar-Se o Senhor desde os Céus, esperavam naturalmente o aparecimento de Cristo no fim daqueles dias. E pela sua má compreensão deste ponto sofreram uma esmagador desapontamento, predito na própria Escritura, embora tudo o que a profecia declarava e tudo o que deviam esperar, teve lugar nesse tempo com absoluta exatidão. Começou então a purificação do santuário, mas esse fato não trouxe Cristo à Terra, porque a Terra não é o santuário, e a sua purificação não implica a destruição da Terra, porque a purificação do santuário é realizada com o sangue de uma oferta de sacrifício e não com o fogo. Aqui estava o amargor do livrinho para a igreja (Apoc. 10:10). Aqui estava a vinda de um como o Filho do homem, não a esta Terra, mas ao Ancião de dias (Dan. 7:13, 14). Aqui estava a vinda do Esposo à bodas, segundo a parábola das dez virgens em Mateus 25.
As virgens loucas disseram então às prudentes: “Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam.” As prudentes responderam: “Ide e comprai-o para vós.” E indo elas comprá-lo, chegou o Esposo. Não se trata aqui da vinda de Cristo a esta Terra, porque é uma vinda que precede as bodas; mas as bodas, isto é, a recepção do reino (ver comentários sobre o Apocalipse 21), devem preceder a Sua vinda a esta Terra para receber o Seu povo, que há de ser convidado para a ceia de bodas (Lucas 19:12; Apoc. 19:7-9). Esta vinda, na parábola, deve, portanto, ser a mesma que a vinda do Filho do homem ao Ancião de dias mencionada fala em Daniel 7:13, 14.
“As que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas; e fechou-se a porta.” Depois de o Esposo vir às bodas, há um exame dos convidados, para ver quem está em condições de participar na cerimônia, segundo a parábola de Mateus 22:1-3. Como último ato antes das bodas o Rei entra para ver os convidados, para verificar se todos estão convenientemente trajados com as vestes nupciais; todo aquele que, após o devido exame, é achado com as vestes e é aceito pelo Rei, não perde mais essas vestes, mas tem certa a imortalidade. Mas a aptidão para o reino é unicamente determinada pelo juízo investigativo do santuário.
Portanto, a obra feita no santuário, que é a expiação ou purificação do próprio santuário, não é senão um exame dos convidados para ver quem tem as vestes nupciais. Por conseguinte, até que esta obra tenha terminado, não está determinado quem está “preparado” para entrar nas bodas. “As que estavam apercebidas entraram com ele para as bodas.” Esta expressão nos leva do tempo em que o Esposo vem para as bodas, através de todo o período de purificação do santuário, ou do exame dos convidados. Quando este exame estiver concluído, terminará o tempo de graça e a porta se fechará.
É agora clara a relação da parábola com a mensagem que estamos examinando. Apresenta um período de preparação dos convidados às bodas do Cordeiro, que é a obra do juízo, a que a mensagem nos leva quando declara: “Vinda é a hora do Seu juízo.” Esta mensagem deve ser proclamada com uma grande voz. Foi proclamada com o poder assim indicado entre os anos 1840 e 1844, mais especialmente no outono do último ano, levando-nos ao fim dos 2.300 dias, quando começou a obra do juízo ao iniciar Cristo a obra da purificação do santuário.
Como já demonstramos, isto não traz o do tempo de graça, e sim o começo do juízo investigativo. Hoje, como no período ao qual já nos referimos, a mensagem do juízo está sendo agora proclamada. Hoje repercute a solene proclamação do juízo “a cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Apoc. 14:6, 7).
Antes de passar a considerar a mensagem do segundo anjo, vejamos por um momento a importância e significado sublime da verdade admirável que aqui se revela tão claramente. Encontramo-nos no umbral do mundo eterno. A última mensagem de misericórdia de Deus está sendo dada a cada nação, e língua, e povo. No santuário celestial estão ocorrendo as cenas finais do grande plano da salvação. Pensemos nisso! Chegou a hora do juízo de Deus. O juízo investigativo que afeta cada pessoa e que precede a vinda de Jesus está agora sendo realizado no céu. Uma veste nupcial, o manto imaculado da justiça de Cristo, foi provido a um custo infinito para todos os que a queiram aceitar. Como nos será quando venha o Rei? “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 João 2:1).
Versículo 8 – Seguiu-se outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição.
A mensagem do segundo anjo. – O tempo desta mensagem é determinada, em grande parte, pelo da primeira mensagem. Esta não pode preceder aquela, mas a primeira está limitada aos últimos dias. Todavia, a segunda deve ser dada antes do fim, porque nenhum acontecimento desta espécie é possível depois desse acontecimento. É, portanto, uma parte daquele movimento religioso que se realiza nos últimos dias com referência especial à vinda de Cristo.
Portanto, convém perguntar: Que significa o termo Babilônia? Que é a sua queda? Como se produz? Quarto à etimologia da palavra, algumas coisas sabemos pelas notas marginais de Gênesis 10:10 e 11:9. O começo do reino de Ninrode foi Babel, ou Babilônia. Esse nome significa “confusão”, porque Deus ali confundiu a língua dos construtores da torre. A palavra é aqui usada em sentido figurado para designar a grande cidade simbólica do Apocalipse, provavelmente com referência especial ao significado do termo e às circunstâncias em que nasceu. Aplica-se a alguma coisa em que se pode escrever a palavra “confusão”.
Há apenas três coisas possíveis às quais a palavra pode aplicar-se. São o mundo religioso apóstata em geral; a igreja papal em particular e a cidade de Roma. Examinando estes pontos mostraremos primeiro o que não é Babilônia.
Babilônia não se limita à igreja romana. Não negamos que essa igreja é uma parte muito importante da grande Babilônia. As descrições do capítulo 17 parecem aplicar-se muito particularmente a essa igreja. Mas o nome que ela traz na sua testa, “Mistério, a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da Terra”, revela outras relações familiares. Se a igreja é a mãe, quem são as filhas? O fato de se falar destas filhas mostra que, além da igreja católica romana, há outros corpos religiosos incluídos nesta designação. Além disso haverá um apelo feito em relação com esta mensagem: “Sai dela, povo Meu” (Apoc. 18:1-4). Como esta mensagem há de ser dada na geração atual, segue-se que, se Babilônia não inclui outra igreja senão a igreja romana, o povo de Deus se encontra agora na comunhão dessa igreja, e deve ser chamado a sair dela. Mas nenhum protestante estará disposto a adotar esta conclusão.
Babilônia não é a cidade de Roma. O argumento em que alguns se baseiam para mostrar que a cidade de Roma é a Babilônia do Apocalipse é assim apresentado: O anjo disse a João que a mulher que ele tinha visto era a grande cidade que reinava sobre os reis da Terra, e que as sete cabeças da besta são sete montes sobre os quais a mulher está sentada. Logo, dando à cidade e aos montes um sentido literal, e encontrando Roma justamente edificada sobre sete colinas, aplicam a declaração à Roma literal.
O princípio em que se baseia esta interpretação é a suposição de que a explicação de um símbolo deve ser sempre literal. Mas cai por terra desde o momento em que se mostra que os símbolos por vezes são explicados substituindo-os por outros símbolos, explicando-se então estes. Isto pode facilmente acontecer. Em Apocalipse 11:3 é apresentado o símbolo das duas testemunhas. O versículo seguinte diz: “Estas são as duas oliveiras e os dois castiçais que estão diante do Deus da Terra.” Neste caso o primeiro símbolo é o mesmo que outro símbolo, que por sua vez é claramente explicado em alguma parte. O mesmo sucede com o caso que temos diante de nós. “As sete cabeças são sete montes”, e “a mulher que viste é a grande cidade." Não será difícil mostrar que tanto os montes como a cidade são usados simbolicamente. Notemos com especial atenção os seguintes pontos:
Somos informados em Apocalipse 13 que uma das sete cabeças foi ferida de morte. Esta cabeça não pode, portanto, ser um monte literal, porque seria estulto dizer que um monte foi ferido de morte.
Cada uma das sete cabeças tem sobre si uma coroa. Mas quem já viu um monte literal adornado com uma coroa?
As sete cabeças são evidentemente diferentes formas de governo que se sucedem evidentemente no transcurso do tempo, pois lemos: “Cinco já caíram, um existe, e outro ainda não é vindo.” (Apoc. 17:10). Mas as sete colinas sobre as quais Roma está edificada não são sucessivas, e seria absurdo aplicar-lhes semelhante linguagem.
Segundo Daniel 7:6, comparado com Daniel 8:8, 22, as cabeças significam governos, e segundo Daniel 2:35, 44 e Jeremias 51:25 os montes significam reinos. Segundo estes fatos, a versão literal de Apocalipse 17:9 e 10 remove toda a obscuridade: “As sete cabeças são sete montes sobre os quais a mulher está sentada e são sete reis." Vê-se, assim, que o anjo representa as cabeças como montes, e explica depois os montes como sendo sete reinos sucessivos. O significado é transferido de um símbolo para outro e então é dada uma explicação do segundo símbolo.
Do argumento anterior deduz-se que a “mulher” não pode representar uma cidade literal, porque os montes sobre os quais a mulher está sentada são simbólicos e uma cidade literal não pode estar assentada sobre montes simbólicos. Além disso, Roma era o trono do dragão de Apocalipse 12, e esta foi transferida para a besta (Apoc. 13:2). Veio a ser assim o trono da besta, mas seria uma singular mistura de figuras fazer o trono ocupado pela besta e uma mulher sentada sobre a besta referir-se à mesma coisa.
Se a cidade de Roma fosse a Babilônia do Apocalipse, que contra-senso teríamos em Apocalipse 18:1-4, visto que neste caso a queda de Babilônia seria a queda e destruição da cidade, de fato sua subversão completa pelo fogo, segundo o versículo 8. Mas note-se o que se passa depois da queda. Babilônia torna-se “morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável”. Como pode isto suceder a uma cidade depois de ser destruída e completamente queimada pelo fogo? Além disso, depois de tudo, ouve-se uma voz, dizendo: “Sai dela, povo Meu.” Está todo o povo de Deus em Roma? De modo nenhum. Mas quantos podemos supor que ali estejam, que sejam chamados a sair, depois de a cidade ser destruída pelo fogo? Não é necessário dizer mais para provar que Babilônia não pode ser a cidade de Roma.
Que significa Babilônia? – Babilônia significa a igreja mundana universal. Depois de ter visto que não pode ser nenhuma das outras duas coisas às quais o termo poderia ser aplicado, resta apenas este. Mas não somos abandonados neste assunto a esta espécie de raciocínio. Babilônia é chamada uma “mulher”. Uma mulher, usada como símbolo, significa uma igreja. Interpretamos a mulher de Apocalipse 12 como sendo uma igreja. A mulher de Apocalipse 17 deve indubitavelmente interpretar-se como significando também uma igreja. O caráter da mulher representa o caráter da igreja representada. Uma mulher casta representa uma igreja pura, e uma mulher corrupta, uma igreja impura ou apóstata. A mulher Babilônia é uma prostituta, e mãe de filhas semelhantes a ela. Esta circunstância, como o seu próprio nome, demonstra que Babilônia não se limita a um só corpo eclesiástico, mas deve ser composta de vários. Deve englobar s todos os que têm natureza semelhante, e representar todas as igrejas corruptas e apóstatas da Terra. Isto explicará talvez a linguagem de Apocalipse 18:24, pela qual vemos que quando Deus reclamar da grande Babilônia o sangue dos seus mártires, nela se encontrará o “sangue dos profetas, e dos santos, e de todos os que foram mortos na Terra.”
Através dos séculos quase todo país da Europa teve sua igreja oficial do Estado, e a maioria desses países têm atualmente suas religiões estabelecidas, que se opõem energicamente aos dissidentes. Babilônia embriagou todas as nações com o vinho da sua fornicação, isto é, com suas falsas doutrinas. Portanto, não pode simbolizar senão igreja mundana universal. A grande cidade, Babilônia, é composta de três divisões. Assim também as grandes religiões do mundo podem ser distribuídas sob três agrupações. A primeira, a mais antiga e a mais espalhada é o paganismo, que separadamente simboliza sob a forma de um dragão; a segunda é a grande apostasia papal, simbolizada pela besta; a terceira são as filhas, ou descendentes daquela igreja simbolizada pela besta de dois chifres, embora não abranja todas. Guerra, opressão, mundanismo, formalismo religioso, a busca do prazer, e a conservação de muitos erros da igreja católica romana, identificam com triste e fiel exatidão o grande corpo das igrejas protestantes como uma importante parte desta grande Babilônia, objeto da advertência.
Um exame do procedimento seguido pela igreja protestante em certas ocasiões o demonstrará melhor. Quando Roma teve o poder, destruiu vastas multidões dos que considerava hereges. A igreja protestante manifestou o mesmo espírito. Basta citar Miguel Servet, queimado pelos protestantes de Genebra sob a direção de João Calvino; os dissidentes durante muito tempo oprimidos pela igreja inglesa; os pais puritanos da Nova Inglaterra enforcando os Quakers e açoitando os batistas, apesar de eles por sua vez serem fugitivos da opressão semelhante da igreja anglicana. Mas, dirão alguns, estes acontecimentos pertencem ao passado. É verdade, mas demonstram que quando pessoas dirigidas por forte preconceito religioso, podem coagir os dissidentes, não se podem eximir de o usar, e essa fraqueza há de ver-se nos Estados Unidos em futuro cumprimento da profecia final de Apocalipse 13.
Era vontade de Cristo que Sua igreja fosse unida. Orou para que Seus discípulos fossem um, como Ele e o Pai eram um, porque isto daria poder ao Seu Evangelho e levaria o mundo a crer nEle. Em vez disto, olhe-se para a confusão que existe no mundo protestante, para os muitos muros de separação que o dividem numa rede de sociedades, e para os muitos credos discordantes como as línguas dos que foram dispersos quando construíam a torre de Babel. Deus não é o autor disto. É o estado de coisas que a palavra “Babilônia” descreve com propriedade. Usa-se esta palavra com este mesmo fim, e não como termo de censura. Em vez de se encher de ressentimento quando se menciona este termo, o povo devia antes examinar a sua posição, para ver se em sua fé ou prática é culpado de ter algum relacionamento com a grande cidade da confusão. Em caso positivo, deve separar-se imediatamente dela.
A verdadeira igreja é uma virgem casta (2 Cor. 11:2). A igreja que se une em amizade ao mundo, é uma prostituta. É esta relação ilícito com os reis da Terra o que constitui a grande prostituta do Apocalipse. Assim, a igreja judaica, a princípio esposada com o Senhor (Jer. 2, 3 e 31:32), tornou-se prostituta (Ezeq. 16). Esta igreja, quando apostatou de Deus, foi chamada Sodoma (Isaías 1), exatamente como “a grande cidade” (Babilônia) é também chamada em Apocalipse 11. A união ilícita com o mundo, de que Babilônia é culpada, é uma prova positiva de que não se trata do poder civil. O fato de o povo de Deus estar no meio dela antes de ser destruída é uma prova de que ela professa ser um corpo religioso. Por estes motivos, é muito evidente que a Babilônia do Apocalipse é a professa igreja que se uniu com o mundo.
“Caiu, caiu a grande Babilônia.” – A queda de Babilônia agora vai ocupar a nossa atenção. Depois de ver o que constitui Babilônia, não será difícil decidir o que significa a declaração de que ela caiu. Como Babilônia não é uma cidade literal, sua queda não pode ser uma queda literal. Já vimos que absurdo isto seria. Além disso, a própria profecia estabelece a mais nítida distinção entre a queda e a destruição de Babilônia. Babilônia “cai” antes de ser “lançada” com ímpeto no mar, como uma grande pedra de moinho, e ser completamente “queimada no fogo”. Portanto, a queda é espiritual, porque depois da queda é dirigida a Voz ao povo de Deus que ainda está relacionado com ela: “Sai dela, povo Meu”. O motivo é logo a seguir apresentado: “para que não sejas participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas.” Babilônia, portanto, continua existindo no pecado, e suas pragas são ainda futuras, depois de sua queda.
Os que aplicam a expressão Babilônia exclusivamente ao papado, sustentam que a queda de Babilônia é a perda do poder civil pela igreja papal. Por causa da sua queda, Babilônia tornou-se morada de espíritos imundos e de aves aborrecíveis, mas este não é para Roma o resultado da perda do poder civil.
O povo de Deus é chamado a sair de Babilônia, por causa do aumento de pecaminosidade resultante da queda; mas a perda do poder temporal do papado não constitui uma razão adicional por que o povo de Deus deva deixar aquela igreja.
Babilônia experimenta esta queda espiritual porque “a todas as nações deu a beber do vinho da ira [não ira, mas intensa paixão] da sua prostituição”. Há apenas uma causa a que isto pode referir-se – as falsas doutrinas. Ela corrompeu as verdades puras da Palavra de Deus e embriagou as nações com fábulas agradáveis. Sob a forma do papado suplantou o Evangelho e o substituiu por um falso sistema de salvação:
Pela doutrina da Imaculada Conceição nega que em Cristo Deus habitou em carne humana.
Procurou deixar de lado a mediação de Cristo e, em seu lugar, pôs outro sistema de mediação.
Tentou tirar o sacerdócio de Jesus e substituí-lo por um sacerdócio terreno.
Fez a salvação depender da confissão a um homem mortal e assim separou o pecador de Jesus, o único meio pelo qual os seus pecados podem ser perdoados.
Rejeita a salvação pela fé como “heresia condenável”, e a substitui pela doutrina da salvação pelas obras.
Sua blasfêmia culminante é a doutrina da transubstanciação, o sacrifício idólatra da missa, dando-lhe o mesmo valor “que ao da cruz” e declara que, em alguns sentidos, “tem vantagens sobre o Calvário”, porque por ele “realiza-se a obra de nossa redenção”.
Entre as doutrinas contrárias à Palavra de Deus, ensinadas por ela, podem mencionar-se as seguintes:
A substituição da Bíblia pela tradição e a voz da igreja como guia infalível.
A mudança do sábado do quarto mandamento, o sétimo dia, para a celebração do domingo como dia de repouso do Senhor e memorial da Sua ressurreição, instituição que nunca foi ordenada por Deus, e que de maneira alguma pode comemorar apropriadamente esse acontecimento. Instituído pelo paganismo como “o selvagem dia santo solar de todos os tempos pagãos”, o domingo foi levado à pia batismal pelo papa e cristianizado como instituição da igreja evangélica. Fez-se, assim, uma tentativa de destruir o monumento comemorativo que o grande Deus havia instituído para comemorar a Sua magnificente obra criadora, e se procurou erigir outro em seu lugar para comemorar a ressurreição de Cristo, sem motivo, visto que o próprio Senhor já havia dado um memorial com essa finalidade no batismo por imersão.
A doutrina da imortalidade natural da alma. Esta também se derivou do mundo pagão, e foram os “pais da igreja” que introduziram esta perniciosa doutrina como parte da verdade divina. Este erro anula duas grandes doutrinas bíblicas: a ressurreição e o juízo geral, e abre uma porta para o espiritismo moderno. Deste erro se originaram outras doutrinas funestas, como o estado consciente dos mortos, o culto dos santos, a mariolatria, o purgatório, as recompensas dadas ao morrer, as orações e batismos pelos mortos, o tormento eterno e a salvação universal.
A doutrina de que os santos, como espíritos desincorporados, encontram sua herança eterna em regiões longínquas e indefinidas, “para além dos limites do tempo e do espaço”. Ela desviou multidões do ensino bíblico de que esta Terra há de ser destruída pelo fogo no dia do juízo e da perdição dos homens ímpios, e que das suas cinzas a voz do Onipotente fará surgir uma nova Terra, que será o futuro reino eterno de glória, que os santos possuirão como sua herança eterna.
O batismo por aspersão em vez de imersão, sendo que este é o único modo bíblico do batismo, e um memorial apropriado do sepultamento e ressurreição de nosso Senhor, para cujo fim foi designado. Ao corromper este rito e ao destruí-lo como memorial da ressurreição de Cristo, estava preparado o caminho para a sua substituição por alguma outra coisa, a saber o descanso dominical.
O ensino de que a vinda de Cristo é um acontecimento espiritual e não literal, que foi cumprido por ocasião da destruição de Jerusalém, ou se realiza na conversão, ou na morte, ou por meio do espiritismo. Milhões por tal ensino têm sido para sempre fechadas à doutrina bíblica de que a segunda vinda de Cristo é um acontecimento futuro, definido, literal, pessoal e visível, que resultará na destruição de todos os Seus inimigos, mas trará a vida eterna para todo o Seu povo!
A doutrina de um milênio temporal, ou mil anos de paz, prosperidade e justiça sobre toda a Terra antes da segunda vinda de Cristo. Esta doutrina destina-se especialmente a fechar os ouvidos do povo contra as evidência da proximidade do segundo advento, e provavelmente adormecerá tantas almas num estado de segurança carnal, que as levará à sua final ruína, como jamais o fez nenhuma heresia arquitetada pelo grande inimigo da verdade.
Significado da queda de Babilônia. – Para chegar agora mais particularmente à aplicação da profecia referente à queda de Babilônia, vejamos a atitude do mundo religioso em relação à possibilidade de tal mudança, quando chegou o tempo para a proclamação desta mensagem, em relação com a primeira mensagem, por volta de 1844. O paganismo era apenas apostasia e corrupção logo no início e ainda o é. Não é possível uma queda espiritual em relação a ele. O catolicismo durante séculos tem estado em uma condição caída durante séculos. Mas as igrejas protestantes começaram a grande obra de reforma da corrupção papal, e realizaram um trabalho nobre. Estiveram, numa palavra, em tal posição que lhes era possível uma queda espiritual. Portanto, é inevitável a conclusão de que a mensagem anunciando a queda se referia quase por completo às igrejas protestantes.
Pode perguntar-se por que motivo é que este anúncio não foi feito mais cedo, se tão grande parte de Babilônia tinham já caído havia tanto tempo. A resposta é esta: Babilônia, como um todo, não podia dizer-se caída enquanto uma divisão dela permanecesse de pé. Não podia anunciar-se até que a condição do mundo protestante piorasse, e este tivesse sacrificado a verdade, ou seja a única senda do progresso. Quando isto aconteceu, e o protestantismo experimentou uma queda espiritual, então podia ser feito o anúncio acerca de Babilônia como um todo, como nunca o podia ter sido antes: “Caiu, caiu Babilônia.”
Talvez convenha examinar ainda como é que o motivo atribuído para a queda de Babilônia, a saber, por ter feito a todas as nações beber do vinho da ira da sua prostituição, se aplicaria às igrejas protestantes no tempo em questão. E a resposta é: seria a ela aplicado muito a propósito. A falha de Babilônia está na sua confusão da verdade e suas falsas doutrinas. Ela cai pelo fato de que as propaga laboriosamente e se apega a elas depois de lhe ser oferecida a luz e a verdade que as teria corrigido. No caso das igrejas protestantes havia chegado um tempo de subir a um nível religioso mais elevado. Podiam aceitar a luz e a verdade que lhes eram oferecidas, e atingir a mais alta consecução, ou podiam rejeitá-las, e perder sua espiritualidade e o favor de Deus, ou, noutros termos, experimentar uma queda espiritual.
A verdade que Deus achou conveniente empregar como um instrumento nesta obra foi a mensagem do primeiro anjo. A doutrina pregada era que a hora do juízo de Deus chegara, e isto tornava iminente o segundo advento de Cristo. Depois de ouvir por tempo suficiente para ver a bênção que acompanhava a doutrina e os bons resultados que produzia, as igrejas, como um todo, rejeitaram-na com desdém e escárnio. Foram, assim, provadas, revelando-se claramente o fato de que seus corações estavam com o mundo, e não com o Senhor, e que o preferiam assim.
Mas a mensagem teria curado os males que então existiam no mundo religioso. O profeta exclama, talvez referindo-se a este mesmo tempo: “Queríamos curar Babilônia, mas ela não sarou.” (Jer. 51:9). Pergunta alguém: Como sabemos que teria sido este o efeito da recepção da mensagem? Respondemos: Porque este foi o efeito em todos os que a receberam. Saíram de diferentes denominações, e suas barreiras denominacionais foram derribadas; credos em conflito foram desfeitos em átomos; abandonaram a esperança antibíblica de um milênio temporal; corrigiram suas falsas opiniões sobre a segunda vinda; o orgulho e a conformidade com o mundo foram banidos; o que estava mal foi posto em ordem; os corações uniram-se na mais doce fraternidade; e o amor e a alegria reinaram soberanamente. Se a doutrina fez isto com os poucos que a receberam, o mesmo teria feito com todos, se a tivessem recebido. Mas a mensagem foi rejeitada.
Por toda parte do país se levantou o clamor: “Caiu, caiu Babilônia”, e, em antecipação do movimento apresentado em Apocalipse 18:1-4, os que proclamavam a mensagem acrescentam: “Sai dela, povo Meu”. Como resultado, milhares de pessoas separaram-se das diversas denominações.
Notável mudança então sobreveio às igrejas acerca da sua condição espiritual. Quando uma pessoa recusa a luz, coloca-se necessariamente em trevas; quando rejeita a verdade, forja inevitavelmente os grilhões do erro para os seus próprios membros. Segue-se a queda de espiritualidade ou queda espiritual. Isto foi o que experimentaram as igrejas. Preferiram aderir aos velhos erros, e continuar pregando ainda as suas falsas doutrinas entre o povo. Portanto, a luz da verdade os abandonou.
Alguns deles sentiram e deploraram a mudança. Os seguintes testemunhos de seus próprios autores descrevem a sua condição naquele tempo.
Em 1844, o Christian Palladium falava nos seguintes lamentosos termos:
“Em todas as direções ouvimos o doloroso som, trazido por todas as brisas do céu, enregelantes como as rajadas dos ventos dos icebergs do norte, apoderando-se como pesadelo do peito dos tímidos, e sorvendo as energias dos fracos, de que a tibieza, a divisão, a anarquia, e a desolação estão assolando os confins de Sião.” – “O Remédio”, na revista Christian Palladium, 15/5/1844, pág. 409.
Também em 1844, o Religious Telescope empregava a seguinte linguagem:
“Nunca testemunhamos um declínio tão geral da religião como no presente. Na verdade, a igreja devia despertar e investigar a causa desta aflição, pois deve considerá-la como aflição todo aquele que ama Sião. Quando nos lembramos de quão poucos e raros são os casos de verdadeira conversão, e a impenitência e dureza dos pecadores são quase sem par, involuntariamente exclamamos: Esqueceu-Se Deus de ser gracioso? Ou fechou a porta da misericórdia?” – Religious Telescope, 4/12/1844, pág. 76.
Por esse tempo eram feitas nos jornais religiosos convites de jejuns e períodos de oração para a volta do Espírito Santo. O próprio Sun, de Filadélfia, publicou o seguinte em novembro de 1844:
“Os abaixo assinados, ministros e membros de várias denominações de Filadélfia e arredores, crendo solenemente que os presentes ‘sinais dos tempos’, a saber, a penúria espiritual das nossas igrejas em geral e os extremos males no mundo que nos rodeia, parecem clamar alto a todos os cristãos a ter momentos especiais de oração, concordam por este meio, por divina permissão, unirem-se em uma semana de oração especial a Deus Todo-poderoso para o derramamento do Seu Espírito Santo em nossa cidade, nosso país e no mundo.” – Philadelphia Sun, 11/11/1844.
Carlos G. Finney, evangelista bem conhecido, disse em fevereiro de 1844:
“Temos lembrado que, em geral, as igrejas protestantes do nosso país ou têm sido apáticas ou hostis a quase todas as reformas morais do nosso tempo. Há exceções parciais, embora não bastem para deixar de tornar geral o fato. Temos também outro fato que o corrobora: a ausência quase geral de influência reavivadora nas igrejas. A apatia espiritual invadiu quase tudo, e é terrivelmente profunda. Assim o testifica a imprensa religiosa de todo o país. Em larga escala os membros da igreja estão-se tornando devotos da moda, dando mãos aos ímpios em reuniões de prazer, na dança, nas festas, etc. Mas não precisamos falar mais sobre este pensamento. Basta o fato de que a evidência aumenta e se avoluma pesadamente sobre nós, mostrando que igrejas em geral estão lamentavelmente degenerando. Separaram-se demasiado de Deus, e Ele separou-Se delas.”
Em novembro de 1844, a revista Oberlin Evangelist observou em um artigo editorial:
“Alguns de nossos jornais religiosos lamentam o fato de que os reavivamentos têm cessado completamente em nossas igrejas, como todos eles testemunham. Faz muito que não se conhecia uma época de pobreza tão generalizada. Existe um grande espírito de reavivamento político e de empenho em todas as operações comerciais, mas a decadência e a morte se instalam no seio da atividade cristã e do santo amor para com Deus e para com as almas. Conservam-se as formas exteriores da religião; continua a rotina dos deveres dominicais, mas em relação com os momentos de ‘refrigério pela presença do Senhor’, nos quais o temor pega o hipócrita, a convicção toma o pecador e os corações humildes se agarram às promessas e lutam poderosamente pela conversão de almas – esses momentos apenas são conhecidos à medida em que são docemente lembrados, como dias que se foram e não existem mais.” – “Reavivamentos”, na revista Oberlin Evangelist, 20/11, 1844, pág. 189.
As igrejas não sofreram só uma notável perda da espiritualidade em 1844, mas desde então a decadência tem continuado visivelmente.
A revista Congregationalist, de novembro de 1858, disse:
“O reavivamento da piedade de nossas igrejas não é de tal ordem que, de sua mera existência, se possam inferir confiadamente seus frutos legítimos e práticos. Devia, por exemplo, ter-se como certo que, depois de uma tal chuva de graça, os tesouros das nossas sociedades de beneficência encheriam, como sucede, depois de uma abundante chuva, que os rios se avolumam em seus leitos. Mas os administradores de nossas sociedades deploram o afrouxamento de simpatia e auxílio das igrejas.
“Há outra ilustração mais triste da mesma verdade geral. O Watchman and Reflector afirmava recentemente que nunca houve entre os batistas uma lamentável dissensão de igreja tão espalhada como a que prevalece no presente. . . . Um simples relance para os semanários da nossa própria denominação provará que o mal não se limita apenas aos batistas.” – “Amplitude da Cultura Cristã”, na revista Congregationalist, 19/11/1858, pág. 186.
O principal jornal metodista, o Christian Advocate, de Nova York, publicou em 1883 um artigo do qual copiamos estas declarações:
“1. Disfarçai como quiserdes, a igreja, num sentido geral, encontra-se espiritualmente em rápido declínio. Enquanto cresce em número e dinheiro, torna-se extremamente fraca e limitada em sua espiritualidade, tanto nos ministros como nos membros. Está tomando a aparência e caráter da igreja de Laodicéia.
“2. Há milhares de ministros, nas congregações e nas conferências, e muitos milhares de leigos, tão mortos e inúteis como estéreis figueiras. Não contribuem com nada de natureza temporal ou espiritual para o progresso e triunfo do Evangelho através da Terra. Se todos estes ossos secos de nossa igreja e de suas congregações ressuscitassem e realizassem um serviço fiel e ativo, que novas e gloriosas manifestações de poder divino se presenciariam!” – Christian Advocate, New York, 30/8/1883.
O redator do Western Chronicle Advocate escreveu em 1893 acerca da igreja o seguinte:
“À igreja dos metodistas escreve: A grande dificuldade conosco está no fato de que a salvação das almas em perigo recebe nossa última e final consideração. Muitas de nossas congregações agem como clubes sociais. Transformaram-se em centros de influência social. Procura-se formar parte deles para progredir em nossa sociedade, nos negócios ou na política. Os pregadores convidados são aqueles que sabem ‘suavizar os textos para que elogiem suavemente os ouvidos e ocultem cuidadosamente a condenação.’
“Os cultos dominicais servem como ocasiões para ostentar o luxo das últimas modas. Mesmo os infantes são adornados como assistentes do orgulho. Se se lêem os ‘Regulamentos’ é para cumprir a letra de uma lei cujo espírito há tempo desapareceu. Os registros estão cheios de nomes de pessoas não conversas. Podem encontrar-se membros oficiais nos palcos dos teatros e outros lugares onde são ostentados vestes luxuosas. Os que recebem a comunhão participam das corridas, dão bailes e partidas de naipes, e assistem a elas. A distinção entre os que estão dentro da igreja e os que estão fora é tão obscura que os homens sorriem quando solicitados a se unirem à igreja, e às vezes nos dizem que fora dela encontram os melhores homens.
“Quando nos dirigimos às massas, com muita freqüência o fazemos de modo tão pomposo que o respeito próprio as afugenta de nós.
“E contudo, sob a inflação dos ricos e ímpios, temo-nos estendido tanto, que eles nos resultam necessários. A aplicação da letra rígida da disciplina em apenas um ano reduziria pela metade o total de nossos membros, poria em bancarrota nossa sociedade missionária, fecharia nossas igrejas luxuosas, paralisaria nossos interesses afins, tiraria os incentivos e angustiaria nossos pastores e bispos. Mas subsiste o fato de que deve ocorrer uma de duas coisas: ou a disciplina deve purificar a igreja, ou o Espírito Santo de Deus buscará outros meios organizados. O machado foi posto à raiz da árvore. Somos chamados ao arrependimento. A obra de Deus tem que ser feita. Se atrapalhamos o caminho, ele nos eliminará,” – Western Chronicle Advocate, 19/7/1893, pág. 456.
O Independent, de Nova Iorque, de 3 de dezembro de 1896, publicou um artigo de D. L. Moody, do qual extraímos o seguinte:
“Numa edição recente do vosso jornal vi um artigo de um colaborador, em que se afirmava que havia mais de três mil igrejas nas corporações congregacionalistas e presbiterianas deste país que no ano passado não relataram a recepção de um único membro por profissão de fé. Poderá ser isto verdade? De tal maneira se apoderou de mim este pensamento, que não o posso expulsar de minha mente. Quase basta para fazer perpassar um calafrio de horror pela alma de cada cristão.
“Se isto sucede com estas duas grandes denominações, qual há de ser também a condição das outras? Iremos todos ainda sentar-nos e deixar que continue este estado de coisas? Hão de os nossos jornais e os nossos púlpitos conservar suas bocas fechadas, como 'cães mudos que não podem ladrar', sem advertir o povo do perigo que se aproxima? Não deveríamos todos levantar a bossa voz como uma trombeta sobre este assunto? Que há de pensar o Filho de Deus de semelhante resultado do nosso trabalho? Que há de um mundo incrédulo pensar de um cristianismo que não pode produzir mais qualquer fruto? E não temos nós nenhuma preocupação pelas multidões de almas que cada ano caem na perdição, enquanto nos sentamos todos e olhamos? E onde estará este nosso país nos próximos dez anos, se não despertarmos do sono?” – Dwight Moody, Independent, New York, 3/12/1896, pág. 1.
A condição de decadência espiritual em que caíram as igrejas como resultado de terem rejeitado a mensagem do primeiro anjo, levou-as a aceitar doutrinas errôneas e corrompidas. Durante a última parte do século XIX ver-se-ia uma mudança notável na atitude dos dirigentes e dos membros das igrejas protestantes com respeito às doutrinas básicas das Escrituras da verdade. Tendo rejeitado o verdadeiro, aceitam o falso. A teoria da evolução, aceita por muitos dirigentes das igrejas, estava, segundo as palavras de um grande escritor religioso, “expulsando o Criador”. Um defensor religioso da teoria declarou que “a oração é a comunicação com o meu eu racial íntimo”.
Os efeitos da teoria evolucionista sobre a fé das igrejas são tão aparentes que são muito comuns os comentários públicos sobre a situação. Certo professor de filosofia de uma grande universidade observa:
“Hoje parece que a grande tradição moral hebraica cristã, que é a parte mais antiga de nossa herança, está-se desmoronando diante de nossos olhos. . . . A fé na ciência fortaleceu-se de tal maneira, e adquiriu tanta auto-suficiência, arraigou-se tanto nos processos de nossa sociedade, que muitos dos que a albergam perderam todo o desejo de combiná-la com qualquer outra. . . . O homem que confia numa ciência física para descrever o mundo não acha onde situar uma divindade. . . . As filosofias que hoje expressam seus interesses básicos [dos homens] não se preocupam já, como no século XIX, de justificar uma crença em Deus e na imortalidade. Estas idéias desapareceram simplesmente de qualquer tentativa séria para chegar a compreender o mundo. . . . O atual conflito da fé religiosa com a ciência já não se refere a uma explicação científica do mundo, senão a uma explicação científica da religião. O efeito realmente revolucionário da fé científica hoje, não é sua nova visão do universo, e sim sua nova visão da religião.” – John Herman Randall, na revista Current History, junho, 1929, págs. 359-361.
Qual é essa nova visão da religião? Um porta-voz do liberalismo moderno explica-o francamente:
“Os protestantes liberais abandonaram a crença na infalibilidade verbal da Bíblia” – James Gordin Gilkey, Faith to Affirm, pág. 3.
“Cremos que Jesus foi um ser humano, não um ser sobrenatural diferente de todos os demais homens em sua qualidade. Cremos que nasceu da maneira normal, e que arrostou os problemas e dificuldades da vida sem nenhum reforço secreto de poder miraculoso. . . . Para nós, a morte de Jesus não em essência diferente da morte de outros heróis.” – Idem, págs. 9,10.
“Hoje a antiga crença de que Jesus voltará a aparecer no céu para inaugurar um dramático juízo do mundo, sentenciar a Satanás e os demônios ao inferno, e conduzir os anjos e os cristãos ao paraíso, foi reduzida à doutrina esotérica de uma minoria em vez de ser uma convicção universal de grande influência no mundo cristão. Visto que um cristão moderno aceita o que os historiadores lhe dizem quanto à idade do universo, e visto que aceita o que os homens de ciência lhe dizem acerca da natureza do processo evolucionista, não pode crer que se produzirá jamais um desenlace dos assuntos do mundo como o que os primeiros cristãos esperavam.” – Idem, pág. 24.
“Propomo-nos tomar do cristianismo antigo os elementos que parecem ter valor permanente, combiná-los com as convicções religiosas e as percepções éticas que surgiram nos tempos modernos, e com este material composto elaborar uma nova fórmula da mensagem cristã. admitimos francamente que nosso evangelho não é o ‘velho evangelho’, nem sequer uma versão modificada do velho evangelho que está sendo proclamado agora nos púlpitos conservadores. É o nosso, confessamos, um ‘novo evangelho’.” – Idem, pág. 26.
Se o protestantismo tivesse aceitado a mensagem do primeiro anjo, isso teria permitido à igreja ser uma luz a todas as nações. Mas ao rejeitar a mensagem, traiu sua missão e deixou as nações sem o testemunho da verdade presente que poderia ter recebido; e como resultado elas andam tateando nas trevas do erro e superstição resultantes das influências intoxicantes e estupefacientes do sistema de falsas doutrinas que tal igreja edificou e não quis abandonar.
Robert M. Hutchins, reitor da Universidade de Chicago, al falar de nossa condição espiritual, disse:
“Não sabemos para onde vamos, nem porquê, e quase renunciamos à tentativa de descobri-lo. Estamos desesperados porque as chaves que abririam as portas do céu nos introduziram a uma prisão maior, mas também mais opressiva. Pensávamos que aquelas chaves eram a ciência e a livre inteligência do homem. Fracassaram. Há muito que temos abandonado a Deus. A que podemos apelar agora?” – Robert M. Hutchins, citado em The Christian Century, 24/1/1934.
Em seu número de 24 de maio de 1941, o Inquirer de Filadélfia tentou analisar assim nossas condições num editorial:
“Parece que chegamos a um desses momentos portentosos da história em que a civilização detém-se espantada na presença de forças por demais complexas e terríveis em sua potencialidade para serem avaliadas com exatidão. Confrontados com problemas que não se podem descartar mais que por crianças desatentas e insensatas de juízo leviano, chegamos à encruzilhada onde qualquer sinal indicador nos deixa perplexos. Durante anos assaltos cada vez mais acerbos foram lançados contra a religião. Parecia que não precisávamos preocupar-nos se ‘as antigas crenças desfaleciam e caíam’. Pareceria que nesta civilização, como nas do passado quando se aproximava o seu fim inevitável, nós, e esse termo abrange toda a humanidade em geral, temos ficado muito seguros de nós mesmos. . . .
“Temos observado, e muitos de nós com pouco receio, o desenvolvimento de culto estranhos e o surgimento de filosofias pagãs. Sem a menor perturbação, temos presenciado o nascimento do humanismo moderno, com sua negativa de um poder maior que o nosso próprio; sua exaltação do homem até torná-lo igual a seu Criador. Agora, quando a civilização pode estar morrendo de pé, a barreira de esferas de nossa auto-suficiência está explodindo no espaço. Finalmente os seres humanos estão começando a descobrir que não são pequenos deuses, e sim tão-somente pequenos homens.” – Inquirer de Filadélfia, 24/5/1941, pág. 10.
Mas como estas igrejas se apartam cada vez mais de Deus, atingem por fim uma condição tal que os verdadeiros cristãos não podem por mais tempo manter contato com elas. Então serão chamados a sair. Esperamos isto no futuro, em cumprimento de Apocalipse 18:1-4. Cremos que virá quando, em acréscimo de suas corrupções, as igrejas começarem a levantar contra os santos o braço da opressão. (Ver os comentários sobre Apocalipse 18).
Versículos 9-12 – Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.
A mensagem do terceiro anjo. – Esta é uma mensagem do mais terrível teor. Não se encontra em toda a Bíblia mais severa ameaça da ira divina. O pecado contra o qual ela adverte deve ser horrível e tão claramente definido que todos os que quiserem possam compreendê-lo e saibam, assim, como evitar os juízos denunciados contra ele.
Deve notar-se que estas três mensagens são cumulativas, isto é, não cessa uma quando é apresentada a outra. De maneira que, durante certo tempo a primeira mensagem foi a única a ser apresentada. Veio depois a segunda, que não fez cessar a primeira. A partir de então houve duas mensagens. Foram seguidas pela terceira, não para as substituir, mas apenas para se unir a elas, de sorte que agora temos três mensagens que se proclamam simultaneamente, ou antes, uma tríplice mensagem, abarcando as verdades das três; porém, a última, sem dúvida, é a proclamação culminante. Até que a obra esteja concluída nunca deixará de ser verdade que veio a hora do juízo de Deus, nem que Babilônia caiu. Continua sendo necessário proclamar estes fatos em relação com as verdades apresentadas pela terceira mensagem.
Deve notar-se também a ligação lógica que existe entre as próprias mensagens. Tomando nossa posição logo antes de ser introduzida a primeira mensagem, vemos o mundo religioso protestante em triste necessidade de reforma. Divisões e confusão reinavam entre as igrejas. Estavam ainda ligadas a muitos erros e superstições papais. O poder do Evangelho estava minimizado em suas mãos. Para corrigir estes males foi apresentada a doutrina da segunda vinda de Cristo, e proclamada com poder. Deviam tê-la recebido e teriam sido estimulados para uma nova vida. Em vez disso rejeitaram-na e sofreram espiritualmente as conseqüências. Seguiu-se então a segunda mensagem, anunciando o resultado daquela rejeição e declarando o que era não só um fato em si, como também um veredito judicial de Deus sobre as igrejas por sua rebelião a este respeito, a saber, que Deus os havia abandonado e eles tinham sofrido uma queda espiritual. Isto não teve o efeito de os despertar e levar a corrigir seus erros, como bastaria se tivessem querido ser admoestados e corrigidos. O que se segue? Está preparado o caminho para um movimento ainda mais retrógrado, para uma apostasia mais ampla e para males ainda maiores. Os poderes das trevas impulsionarão sua obra, e se as igrejas persistirem ainda em fugir da luz e rejeitar a verdade, encontrar-se-ão em breve adorando a besta e recebendo a sua marca. Tal será a conseqüência lógica da conduta que começou com a rejeição da primeira mensagem. Agora outra proclamação é enviada, anunciando em tons solenes que, se alguém fizer isto, beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da Sua ira. Isto é o mesmo que dizer: Vós rejeitastes a primeira mensagem e experimentastes uma queda espiritual. Se continuardes a rejeitar a verdade e a desprezar as advertências enviadas, esgotareis os últimos recursos da graça de Deus, e finalmente experimentareis uma destruição literal para a qual não haverá remédio. Esta é a ameaça mais severa que Deus podia fazer nesta vida, e é a última. Poucos lhe prestarão atenção e serão salvos, mas a multidão passará adiante e perecerá.
A proclamação da mensagem do terceiro anjo é o último movimento religioso especial que devia fazer-se antes de o Senhor aparecer, porque imediatamente depois disso João viu um como o Filho do homem, vindo sobre uma grande nuvem branca para segar a seara da Terra. Isto não pode representar outra coisa senão a segunda vinda de Cristo. Portanto, se a vinda de Cristo está às portas, chegou o tempo para a proclamação desta mensagem. São muitos os que com a voz e a pena ensinam fervorosamente que estamos nos últimos dias e que a vinda de Cristo está às portas mas quando lhes lembramos esta profecia ficam como perdidos no mar, sem âncora, mapa ou bússola. Não sabem o que fazer com ele. Eles podem ver tão bem como nós se o que ensinam acerca da vinda de Cristo é verdade, e o Senhor está às portas, por toda parte. Sim, por toda a Terra deviam ser ouvidas as notas de advertência desta terceira mensagem.
Os argumentos sobre as duas mensagens precedentes fixam a época em que se deve dar a terceira, e mostram que pertence ao tempo atual. A melhor evidência de que a mensagem está sendo proclamada ao mundo, está nos fatos que demonstram seu cumprimento. Indicamos a primeira mensagem como proclamação principal do grande movimento adventista de 1840-44. Vimos o cumprimento da segunda mensagem em relação com aquele movimento no último ano mencionado. Vejamos o que ocorreu desde aquele tempo.
Quando Cristo não veio em 1844, todo o corpo de adventistas caiu em maior ou menor confusão. Muitos abandonaram completamente o movimento. Outros chegaram à conclusão de que o argumento sobre o tempo estava errado e imediatamente procuraram reajustar os períodos proféticos e fixar uma nova data para a vinda do Senhor, obra em que têm continuado mais ou menos até o tempo presente, fixando nova data à medida que cada uma passa. Poucos buscaram atenta e sinceramente a causa do erro, e foram confirmados em suas opiniões de que o movimento adventista fora providencial, e que tinha sido correto o argumento sobre o tempo; mas viram que tinha sido cometido um erro sobre o assunto do santuário e que esse erro explicava o desapontamento.
Viram que o santuário de Daniel 8:14 não era esta Terra, como se tinha suposto, que a purificação não devia ser pelo fogo, e que a profecia neste particular não implicava a vinda do Senhor. Encontraram nas Escrituras evidência muito clara de que o santuário aludido era o templo celestial, que Paulo chama “santuário”, “o verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou e não o homem”. Viram também que a sua purificação, segundo a figura, ia consistir no ministério final do sacerdote no segundo compartimento, ou no lugar santíssimo. Compreenderam então que tinha chegado o tempo para o cumprimento de Apocalipse 11:19: “Abriu-se, então, o santuário de Deus, que se acha no céu, e foi vista a arca da Aliança no seu santuário.”
Com a atenção voltada para a arca, foram naturalmente levados a um exame da Lei contida na arca. Que a arca continha a Lei era evidente pelo próprio nome que lhe era aplicado. Era chamada “a arca da Aliança”, mas não teria sido a arca da “Aliança”, e não podia ter sido assim chamada, se não encerrasse a Lei. Ali estava, pois, a arca no Céu, o grande antítipo da arca que, durante o tempo das sombras, existiu aqui na Terra. A Lei que esta arca celeste continha deve, por conseguinte, ser o grande original de que a Lei escrita em tábuas na arca terrestre era apenas uma cópia. Ambas as leis devem ser precisamente iguais, palavra por palavra, til por til. Supor de outro modo representaria seria imaginar mentira. Essa Lei continua sendo, pois, a Lei do governo de Deus, e o seu quarto preceito, hoje como no princípio, requer a observância do sétimo dia da semana como o sábado. Ninguém que admita o argumento sobre o santuário pretende questionar este ponto.
Assim foi trazida à luz a reforma do sábado, e viu-se que, tudo o que foi feito em oposição a esta Lei, especialmente na introdução de um dia de repouso e culto que destruía o sábado de Jeová, devia ser obra da besta papal, do poder que se oporia a Deus e tentaria mudar Suas leis ao exaltar-se acima de Deus. Mas esta é precisamente a obra sobre a qual o terceiro anjo pronuncia a sua advertência. Por isso os crentes de 1844 começaram a ver que a época da mensagem do terceiro anjo está sincronizada com o tempo da purificação do santuário, que começou ao terminar os 2.300 dias, em 1844, e que a proclamação é baseada nas grandes verdades desenvolvidas por este assunto.
Assim, a luz da mensagem do terceiro anjo raiou sobre a igreja. Seus membros viram imediatamente que o mundo tinha direito de exigir aos que professam proclamar essa mensagem, uma explicação de todos os símbolos que ela contém: a besta, a imagem, a adoração e a marca. Por isso esses pontos constituíram temas de estudo especial. Viram que o testemunho das Escrituras era claro e abundante, e não levou muito tempo a formular, baseados nas verdades reveladas, declarações e provas definidas que explicavam todos estes pontos.
Uma mensagem de advertência. – Apresentamos os argumentos que demonstram em que consiste a besta, a imagem e a marca ao comentarmos Apocalipse 13; e mostramos que a besta de dois chifres, que faz a imagem à besta e impõe a marca, são os Estados Unidos da América. Esta obra, e estes agentes, contra os quais a mensagem do terceiro anjo dá a sua advertência, constitui uma prova adicional de que esta mensagem deve ser proclamada agora, e mostra a grande harmonia existente em todas estas profecias. Não necessitamos repetir aqui os argumentos; bastará recapitular os pontos estabelecidos:
A “besta” é o poder católico romano.
A “marca” da besta" é a instituição que este poder apresenta como prova de sua autoridade de legislar sobre os assuntos da igreja e dominar as consciências dos homens para mantê-los no pecado. Consiste em fazer uma mudança na Lei de Deus, pela qual é tirado dela a assinatura real. O sábado, o sétimo dia da semana, o grande memorial da obra criadora de Jeová, e arrancado de seu lugar no Decálogo, e é posto em seu lugar um dia de repouso falsificado, o primeiro dia da semana.
A “imagem da besta” é uma combinação eclesiástica que se assemelha à besta por estar revestida de poder para impor os seus decretos com as penas e castigos da lei civil.
A “besta de dois chifres”, que dá à imagem o poder de falar e agir, representa os Estados Unidos da América, que avançam para a formação da imagem da besta.
A besta de duas pontas impõe a marca da besta, isto é, estabelece por lei a observância do primeiro dia da semana, ou o domingo, como dia de repouso. Já mostramos o que se tem feito neste sentido. Muitas pessoas e grupos organizados estão entrelaçando os melhores fins com uma agitação em favor das leis religiosas.
Mas o povo não é deixado em trevas sobre este assunto. A mensagem do terceiro anjo levanta um protesto solene contra todo este mal. Desmascara a obra da besta, revela a natureza da sua oposição à Lei de Deus, adverte o povo contra a submissão às suas demandas, e indica a todos o caminho da verdade. Isto naturalmente desperta oposição, e a igreja é levada tanto mais a procurar o auxílio da autoridade humana em favor dos seus dogmas quanto mais carece da autoridade divina.
O que tem feito esta mensagem, e que progresso fez no mundo até agora? Como resposta a estas perguntas, apresentamos alguns fatos surpreendentes. A primeira publicação que foi feita a respeito, veio à luz em 1849. Hoje esta mensagem é proclamada em livros, folhetos e jornais publicados em 200 línguas diferentes, e mantém 83 casas publicadoras que, espalhadas em ambos hemisférios, publicam 313 jornais. O valor das publicações que fizeram circular em 1942 alcançou $ 5.467.664,99. A obra de evangelização é feita em 413 países e em mais de 810 línguas. Tal movimento é pelo menos um fenômeno que exige explicação. Temos encontrado movimentos que cumprem de um modo admirável e exato as mensagens do primeiro e do segundo anjo. Aqui está outro que chama a atenção do mundo em cumprimento da terceira mensagem. Afirma ser um cumprimento, e pede ao mundo que examine as credenciais em que baseia seu direito a tal afirmação. Examinemo-las:
“Seguiu-os o terceiro anjo”. Assim que este movimento segue os dois anteriormente mencionados. Retoma e continua a proclamação das verdades proclamadas por eles, e lhes ajunta o que mais está envolvido na mensagem do terceiro anjo.
A terceira mensagem é caracterizada como uma advertência contra a besta. Assim, este movimento enfatiza entre os seus temas uma explicação deste símbolo, diz ao povo em que consiste, como também suas pretensões e obras blasfemas.
A terceira mensagem adverte a todos contra a adoração da besta. Assim, este movimento explica como o poder da besta trouxe para o cristianismo certas instituições que se opõem aos preceitos do Altíssimo e mostra que, se nos sujeitarmos a elas, adoramos este poder. “Não sabeis vós”, diz Paulo, “que a quem vos apresentardes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis?” (Rom. 6:16).
A terceira mensagem adverte a todos contra o receberem a marca da besta. Deste modo, este movimento dedica sua obra em grande escala a mostrar o que é a marca da besta e advertir o povo contra a sua recepção. É tanto mais solícito em fazer isto, quanto é certo que este poder anticristão tem trabalhado tão astutamente que a maioria é enganada, fazendo concessões inconscientes à sua autoridade. Está provado que a marca da besta é uma instituição adornada com o traje cristão e tem sido insidiosamente introduzida na igreja cristã de modo a anular a autoridade de Jeová e a entronizar a da besta. Despido de todos os disfarces, levanta simplesmente um falso dia de repouso no primeiro dia da semana, em vez do sábado do Senhor, que é o sétimo dia da semana. Mas é uma usurpação que o grande Deus não pode tolerar e da qual a igreja remanescente deve libertar-se antes de estar preparada para a vinda de Cristo. Daí a urgente advertência: Ninguém adore a besta ou receba a sua marca.
A terceira mensagem tem algo a dizer contra a adoração da imagem da besta. Assim também o movimento fala deste assunto, dizendo o que será a imagem, ou pelo menos explica a profecia da besta de dois chifres. Revela onde se fará a imagem. A profecia se refere a esta geração e está evidentemente às vésperas de se cumprir.
Não há empresa religiosa, além dos adventistas do sétimo dia, que declare ser o cumprimento da mensagem do terceiro anjo. Não há outra que acentue como seus temas preeminentes os assuntos aos quais se dedica este livro. Que faremos com estas coisas? É este o cumprimento? Deve reconhecer-se que sim, a menos que se possa desmentir suas declarações, a menos que se possa demonstrar que não ouviram as mensagens do primeiro e do segundo anjo, que a interpretação sobre a besta, a imagem e a adoração não sejam corretas; e que podem descartar completamente todas as profecias, sinais e evidências que mostram a proximidade da vinda de Cristo, e por conseguinte, a necessidade de proclamar a mensagem. Será difícil a qualquer pessoa que estude a Bíblia com inteligência fazer isso.
O fruto da proclamação apresentado no versículo 12, ainda prova melhor a exatidão das interpretações oferecidas. Apresenta um grupo de que pode dizer-se: “Aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.” Esta obra é feita no próprio coração da cristandade, e os que recebem a mensagem tornam-se peculiares pela sua prática em relação aos mandamentos de Deus. Que diferença há na prática, e que única diferença há entre os cristãos a este respeito? Justamente esta. Alguns pensam que o quarto mandamento é guardado pela consagração do primeiro dia da semana ao repouso e culto. Outros sustentam que o sétimo dia é que é o dia separado a tais deveres, e por isso passam as suas horas assim, retomando no primeiro dia o seu trabalho ordinário. Não podia traçar-se uma linha de demarcação mais clara entre as duas classes. O tempo que uma classe considera como sagrado e dedica a ocupações religiosas é considerado pela outra como unicamente secular e consagrado ao trabalho ordinário. Uma classe repousa devotamente enquanto outra dedicadamente trabalha. Uma classe, prosseguindo suas vocações mundanas, encontra a outra classe afastada de todas as suas atividades, e as comunicações do intercâmbio comercial abruptamente interrompidas. Durante dois dias na semana estas duas classes estão separadas por sua diferença de doutrina e prática em relação ao quarto mandamento. Nenhum outro mandamento poderia criar tão notável diferença.
O sábado se destaca na mensagem. – A mensagem do terceiro anjo leva os seus adeptos a observar o sétimo dia, porque só desta maneira se tornam diferentes, ao passo que a observância do primeiro dia não distinguiria uma pessoa das massas que já estavam observando esse dia quando a mensagem foi introduzida. Nisto temos uma evidência adicional de que a observância do domingo é a marca da besta, porque a mensagem que enfatiza principalmente a advertência contra a recepção da marca da besta, levará sem dúvida seus adeptos a abandonar a prática que constitui a marca e os fará a adotar a conduta oposta. Leva-os a abandonar a observância do primeiro dia da semana, e a adotar a do sétimo dia. Em vista disto, vê-se imediatamente que aqui há mais do que simples deduções de que a observância do domingo constitui a marca da besta contra o qual nos adverte, e que a observância do sétimo dia é o seu oposto, ou seja, o selo de Deus.
Isto está em harmonia com o argumento sobre o selo de Deus, apresentado no capítulo 7. Mostrou-se ali que “sinal”, “selo” e “marca” são termos sinônimos, e que Deus considera o Seu Sábado como Seu sinal ou selo com referência ao Seu povo. Assim, Deus tem um selo ou sinal, que é o Seu Sábado. A besta tem uma marca, que pe o dia de repouso falso. Um é o sétimo dia, o outro é o primeiro dia. A cristandade será por fim dividida somente em duas classes: (1) os que estarão selados com o selo do Deus vivo, isto é, que terão o Seu sinal e guardarão o Seu sábado; (2) os que receberão a marca da besta, isto é, que terão o seu sinal, ou guardarão o seu falso dia de repouso. Com referência a este assunto a mensagem do terceiro anjo nos esclarece e nos adverte.
Pelo fato de o sétimo dia ter tanta importância como dia de repouso, será próprio apresentar aqui os principais fatos relacionados com a instituição do sábado.
O sábado foi instituído no princípio, ao terminar a primeira semana da criação (Gênesis 2:1-3).
Ele foi o sétimo dia daquela semana, e foi baseado em fatos imutáveis e inseparavelmente relacionados com o seu próprio nome e existência. Ao repousar Deus no sétimo dia, tornou-o o dia de repouso, ou o sábado (repouso) do Senhor; e nunca poderá deixar de ser o Seu dia de repouso, visto que esse fato nunca poderá ser mudado. Deus santificou então, ou pôs de parte esse dia, como nos afirma o relato, e essa santificação nunca pode cessar, a não ser que seja retirada por um ato da parte de Jeová tão direto e explícito como aquele pelo qual a colocou sobre o dia no princípio. Ninguém pode dizer que jamais isto se tenha feito, e se pretendesse não o poderia provar.
O sábado nada encerra de natureza típica ou cerimonial, porque foi instituído antes de o homem pecar, e por isso pertence a um tempo em que não podia existir um tipo, sombra ou figura.
As leis e instituições que existiram antes da queda do homem eram primárias em sua natureza. Provinham da relação entre Deus e o homem, e dos homens entre si, e assim continuariam sempre se o homem nunca tivesse pecado e não fossem afetadas pelo seu pecado. Em outras palavras, eram por sua própria natureza imutáveis e eternas. As leis cerimoniais e típicas deveram a sua origem ao fato de o homem ter pecado. De uma dispensação à outra em sujeitas a mudança; e elas, e só elas, foram abolidas na cruz. A lei do sábado era uma lei primária e, portanto, imutável e eterna.
A santificação do sábado no Éden prova a sua existência desde a criação até o Sinai. Ali foi colocada no próprio seio do Decálogo tal como Deus o proferiu com Sua voz audível e o escreveu com Seus dedos em tábuas de pedra. Estas são circunstâncias que o separam para sempre das leis cerimoniais e o colocam entre as leis morais e eternas.
O sábado não é indefinido; não é qualquer sétimo dia depois de seis de trabalho. A Lei do Sinai (Êxo. 20:8-11) o indica de modo tão definido quanto a linguagem o permite. Os acontecimentos que lhe deram origem (Gên. 2:1-3) limitam-no a um sétimo dia definido. Os 6.240 milagres relacionados com o sábado no deserto, na razão de três por semana durante quarenta anos, quando se proporcionava uma dupla porção de maná no sexto dia; a conservação do maná do sexto dia no sétimo dia; e nenhum no sétimo dia (Êxo. 16), mostram que é um dia particular e não um simples espaço de tempo. Dizer outra coisa seria como declarar que o aniversário de Washington ou o Dia da Independência seja apenas 1/365 parte do ano, e pode ser celebrada tanto no dia em que ocorre como em qualquer outro dia.
O sábado é uma parte da Lei que nosso Senhor abertamente declarou não vir destruir. Por outro lado, solenemente afirmou que subsistiria sem omitir qualquer jota ou til até que a Terra passasse (Mateus 5:17-20).
É uma parte da Lei que Paulo declara não ser anulada, mas antes estabelecida pela fé em Cristo (Rom. 8:31). Pelo contrário, a lei cerimonial ou típica, que apontava para Cristo e cessou na cruz, foi anulada e substituída pela fé nEle (Efés. 2:15).
É uma parte da Lei real, da Lei que pertence ao Rei Jeová, que Tiago declara ser a Lei de liberdade, e pela qual havemos de ser julgados no último dia. Deus não estabelece diferentes normas de juízo para as diferentes épocas do mundo (Tiago 2:11 e 12).
É o “dia do Senhor” de Apocalipse 1:10. (Ver os comentários sobre esse versículo).
Aparece como uma instituição em referência à qual é predita uma grande reforma nos últimos dias (Isa. 56:1 e 2, cf. com 1 Ped. 1:5). Esta reforma abrange também a mensagem que estamos considerando.
E na nova Terra o sábado, fiel à sua origem e natureza, volta a aparecer, e derramará desde então suas bênçãos sobre o povo de Deus por toda a eternidade (Isa. 66:22, 23).
Esta é uma breve sinopse de alguns dos argumentos pelos quais vemos que a lei do sábado não foi de modo algum ab-rogada e nem a instituição mudou. Não se pode dizer que uma pessoa guarda os mandamentos de Deus se não guardar o seu dia. Seguir tal instituição é uma alta honra; e prestar atenção às suas exigências trará consigo uma infinita bênção.
O castigo dos adoradores da besta. – Serão atormentados com fogo e enxofre na presença dos santos anjos e do Cordeiro. Quando será infligido este tormento? Apocalipse 19:20 mostra que na segunda vinda de Cristo há manifestação de juízos de fogo que podem ser chamados um lagos de fogo e enxofre, no qual a besta e o falso profeta são lançados vivos. Isto só se pode referir à destruição que lhes sobrevirá no começo, e não no fim do milênio.
Há em Isaías uma notável passagem a que somos obrigados a referir-nos ao explicar as frases da ameaça do terceiro anjo, e que inquestionavelmente descreve cenas que devem ocorrer na Terra por ocasião do segundo advento enquanto a Terra permanece desolada durante os mil anos que se seguem. É quase forçoso reconhecer que a linguagem do Apocalipse reproduz partes dessa profecia. Depois de descrever a ira do Senhor sobre as nações, a grande mortandade de seus exércitos, o afastamento dos céus como um rolo, o profeta diz: “Porque será o dia da vingança do Senhor, ano de retribuições pela luta de Sião. E os seus ribeiros se transformarão em pez, e o seu pó em enxofre. E a sua terra em pez ardente. Nem de noite nem de dia se apagará; para sempre a sua fumaça subirá; de geração em geração será assolada; de século em século ninguém passará por ela.” (Isa. 34:8-10). E desde que está expressamente revelado haver um lago de fogo em que todos os pecadores perecerão no fim dos mil anos, só podemos concluir que a destruição dos ímpios vivos no começo deste período e a ruína final de todos os iníquos no seu final são semelhantes.
A expressão “para todo o sempre” da terceira mensagem (Apoc. 14:11) não pode significar eternidade. Isto é evidente pelo fato de que esse castigo é infligido nesta Terra, onde o tempo é contado por dia e noite. Isto é ainda mostrado pela passagem de Isaías, já citada, que é, como sugerimos, de onde se extraiu a linguagem, e se aplica ao mesmo tempo. O que Isaías diz refere-se ao país da Iduméia. Mas quer signifique literalmente o país de Edom, ao sul e ao leste da Judéia, quer represente, como sem dúvida representa, toda esta Terra no tempo em que o Senhor Jesus Se revelará desde os céus em labareda de fogo, quando chegar o ano de retribuições pela luta de Sião, em ambos os casos a cena terá eventualmente um fim. Esta Terra finalmente há de ser renovada, purificada de toda mancha do pecado, de todo vestígio de sofrimento e imperfeição e se tornará a habitação de justiça e alegria pelos séculos eternos.
A palavra aion aqui traduzida “para sempre” é definida assim por G. Abbot-Smith, em seu pequeno dicionário grego do Novo Testamento: “Um espaço de tempo, como uma vida, uma geração, um período da história, um período indefinidamente longo”. De maneira que, sem fazer violência ao significado aceito pela palavra grega, podemos interpretá-la aqui em harmonia com outras declarações categóricas da Escritura.
O período da mensagem do terceiro anjo é um tempo de paciência para o povo de Deus. Paulo e Tiago dão-nos ambos instruções sobre este ponto (Heb. 10:36; Tiago 5:7, 8). Entretanto este grupo expectante guarda os mandamentos de Deus, o Decálogo, e conserva fé de Jesus, isto é, todos os ensinos de Cristo e de Seus apóstolos contidos no Novo Testamento. O verdadeiro sábado, dado no Decálogo, ressalta assim em vívido contraste com o dia de repouso falsificado, a marca da besta, que finalmente distingue os que rejeitam a mensagem do terceiro anjo.
Versículos 13-16 – Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham. Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro e na mão uma foice afiada. Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para aquele que se achava sentado sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu! E aquele que estava sentado sobre a nuvem passou a sua foice sobre a terra, e a terra foi ceifada.
Uma crise solene. – Os acontecimentos vão se tornando solenes à medida que nos aproximamos do fim. É este fato que dá à mensagem do terceiro anjo, que agora está sendo proclamada, uma solenidade e importância. E a última advertência apresentada antes da vinda do Filho do homem, representado aqui sentado sobre uma nuvem branca, com uma coroa na cabeça e uma foice na mão, para segar a seara da Terra.
Estamos compilando rapidamente uma cadeia profética que culmina na revelação do Senhor Jesus descendo do Céu em labareda de fogo, para Se vingar de Seus inimigos e recompensar os Seus santos. Não só isso, mas aproximamo-nos tanto de seu cumprimento que o próprio elo seguinte na cadeia é esse final e momentoso acontecimento. O tempo nunca retrocede. Como o rio não recua ao aproximar-se do precipício, mas arrasta todos os corpos flutuantes com irresistível força; e como as estações nunca mudam o seu curso, mas o verão segue o caminho da figueira florescente, e o inverno segue as folhas caídas, assim somos levados sempre para diante, queiramos ou não, estejamos ou não preparados, para a crise inevitável e irrevogável. Ah! Quão pouco pensa o orgulhoso cristão professo e o despreocupado pecador na ruína que está iminente! Quão difícil que os próprios que conhecem e professam a verdade compreendê-la!
Uma bênção prometida. – Uma voz do Céu mandou João escrever: “Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor”, e o Espírito responde: “Sim, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam.” “Desde agora” deve significar desde um momento particular. Que momento? Evidentemente desde o começo da mensagem em relação à qual se diz isso. Mas, por que são bem-aventurados os que morrem desde esse momento? Deve haver algum motivo especial para sobre eles ser pronunciada esta bênção. Não será porque escapam ao tempo de terrível perigo que os santos têm de enfrentar ao terminarem a sua peregrinação? Embora são assim abençoados em comum com todos os justos mortos, têm uma vantagem sobre eles por constituírem, sem dúvida, aquele grupo que ressuscitará para a vida eterna na ressurreição especial de Daniel 12:2. Deve notar-se que nessa cadeia profética três anjos precedem o Filho do homem na nuvem branca e três são apresentados depois daquele símbolo. Já expressamos a opinião de que anjos literais participam nas cenas descritas. Os primeiros três têm o encargo das três mensagens especiais, podem também simbolizar um corpo de ensinadores religiosos.
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