segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A SECULAR LUTA PELA LIBERDADE RELIGIOSA

APOCALIPSE 13

Versículos 1-4 – Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade. Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta; e adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?
O mar é símbolo de "povos, e multidões, e nações, e línguas" (Apoc. 17:15). Uma besta é o símbolo bíblico de uma nação, ou poder. Por vezes representa apenas o poder civil e por vezes o eclesiástico junto com o civil. Sempre que se vê uma besta subir do mar, quer dizer que o poder se levanta de um território densamente povoado. Se os ventos são representados como soprando sobre o mar, como em Daniel 7:2, 3, são indicadas comoção política, lutas civis e revolução.
Pelo dragão do capítulo anterior e a primeira besta deste capítulo nos é apresentado o poder romano como um todo em suas duas fases, pagã e papal. Daí que, estes símbolos, tanto um como outro, têm sete cabeças e dez chifres. (Ver os comentários do capítulo 17:10).
Como leopardo. – A besta de sete cabeças e dez chifres, semelhante a leopardo, aqui apresentada, simboliza um poder que exerce tanto a autoridade eclesiástica como a civil. Este ponto é suficiente para justificar a apresentação de alguns argumentos para comprová-lo.
A cadeia profética a que se prende este símbolo começa com Apocalipse 12. Os símbolos de governos terrenos abrangidos na profecia são: o dragão do capítulo 12, a besta semelhante a leopardo e a besta de dois chifres do capítulo 13. A mesma cadeia profética continua evidente até o capítulo 14. De Apocalipse 12:1 até Apocalipse 14:5, temos, pois, uma cadeia profética distinta e completa em si mesma.
Cada um dos poderes aqui introduzidos é representado como feras perseguidoras da igreja de Deus. A cena inicia com a igreja, sob o símbolo de uma mulher, aguardando ansiosamente que se cumprisse a promessa de que a Semente da mulher, o Senhor da glória, aparecesse entre os homens. O dragão estava diante da mulher para tragar o seu Filho. Seu mau intento foi contrariado e o Filho foi arrebatado para Deus e o Seu trono. Segue-se um período em que a igreja sofre dura opressão do poder representado por este dragão. Nesta parte da cena o profeta ocasionalmente olha adiante, quase até o fim, porque todos os inimigos da igreja iam ser movidos pelo espírito do dragão. Em Apocalipse 13:1 retrocedemos ao tempo em que a besta semelhante ao leopardo, sucessora do dragão, começa a sua carreira. A igreja sofre guerra e perseguição deste poder durante o longo período de 1.260 anos. Em seguida a este período de opressão, a igreja tem outro conflito breve, mas severo, com a besta de dois chifres. Logo vem a libertação. A profecia termina com a igreja livre de todas as perseguições, e de pé, vitoriosa com o Cordeiro no Monte Sião. Graças a Deus pela segura promessa de vitória final!
A única personagem que se manifesta sempre a mesma em todas estas cenas, e cuja história é o tema principal através de toda a profecia, é a igreja de Deus. Os outros personagens são os seus perseguidores, e são apresentadas simplesmente como tais. Aqui, como pergunta questão preliminar, fazemos a pergunta: Quem ou que é que persegue a verdadeira igreja? É uma igreja falsa ou apóstata. Que é que guerreia sempre contra a verdadeira religião? É uma religião falsa. Quem jamais ouviu que o simples poder civil de qualquer nação tenha perseguido o povo de Deus por sua iniciativa própria? Os governos podem guerrear contra outros governos para vingar alguma afronta real ou imaginária, ou para adquirir território e estender o seu poder. Mas os governos não perseguem (note-se a palavra, não perseguem) ninguém por causa da sua religião, a menos que estejam sob algum sistema religioso oposto ou hostil.
A besta semelhante ao leopardo é um poder perseguidor. – Os poderes apresentados nesta profecia – o dragão, a besta semelhante ao leopardo e a besta de dois chifres dos vv. 11-17 – são todos poderes perseguidores. São impelidos por sua inimizade contra o povo e igreja de Deus. Este fato constitui por si mesmo uma prova suficientemente persuasiva de que em cada um destes poderes o elemento eclesiástico ou religioso é o poder controlador.
Tomemos o dragão. Que simboliza? A resposta é inegavelmente: Em primeiro lugar, Satanás, como foi antes demonstrado; e em segundo lugar, o Império Romano. Mas isso não basta. Ninguém ficaria satisfeito com essa simples resposta. Deve ser mais definida. Acrescentamos então: O Império Romano na sua forma pagã, que todos concordam. Mas logo que dizemos pagã, apresentamos um elemento religioso, porque o paganismo é um dos mais gigantescos sistemas de religião falsa que Satanás já inventou. Portanto, o dragão é a tal ponto um poder eclesiástico, que a própria característica que o distingue é um sistema religioso falso. O que levou o dragão a perseguir a igreja de Cristo? Foi porque o cristianismo prevalecia contra o paganismo, dissipando suas superstições, derribando seus ídolos, e derrubando seus templos. Foi atingido o elemento religioso desse poder, e daí a perseguição como resultado.
Chegamos agora à besta semelhante ao leopardo de Apocalipse 13. Que simboliza? A resposta continua sendo: o Império Romano. Mas o dragão simbolizava o Império Romano. Por que não é ainda representado pelo mesmo símbolo? Porque houve uma mudança no caráter religioso do império. Esta besta simboliza Roma na sua fase pretensamente cristã, e é esta mudança de religião, e isso apenas, que torna necessária uma mudança de símbolo. Esta besta apenas difere do dragão por apresentar um aspecto religioso diferente. Daí seria errado afirmar que representa apenas o poder civil romano.
Como símbolo do papado. – A esta besta dá o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade. Que poder sucedeu Roma pagã? Todos nós sabemos que foi Roma papal. Para o nosso fim não interessa saber quando ou por que meios se operou esta mudança. O grande fato que se destaca e reconhecido por todos, é que a seguinte importante fase do Império Romano depois da sua forma pagã foi a papal. Não seria correto, portanto, afirmar que Roma pagã deu seu poder e seu trono a uma forma de governo meramente civil, sem nenhum elemento religioso. Nenhum esforço de imaginação pode conceber semelhante transação. Mas duas fases do império são aqui reconhecidas, e, na profecia, Roma é pagã até que chega a ser papal. A afirmação de que o dragão deu à besta semelhante ao leopardo seu poder e seu trono é mais uma prova de que o dragão de Apocalipse 12:3 simboliza Roma é pagã; mas atrás de ambos os poderes está Satanás que os dirige em sua obra de impiedade.
Mas pode ser que alguém diga que tanto a besta semelhante ao leopardo como a besta de dois chifres são necessárias para constituir o papado, e que por isso é a elas que o dragão dá seu poder, trono e grande autoridade. Mas a profecia não diz isso. O dragão trata somente com a besta semelhante ao leopardo. Só a essa besta que ele dá seu poder, trono e grande autoridade. Esta é a besta que tem uma cabeça ferida de morte, que depois é curada. Esta á a besta que faz com que todo o mundo se maravilhe após ela. É esta besta cuja boca que profere blasfêmias, e que faz guerra aos santos durante 1.260 anos. Faz tudo isto antes de entrar em ação o poder seguinte, a besta de dois chifres. Portanto, só a besta semelhante ao leopardo simboliza o Império Romano em sua forma papal sob o domínio da influência eclesiástica.
É idêntica ao chifre pequeno. – Para mostrar isto melhor, basta-nos estabelecer um paralelo entre o chifre pequeno de Daniel 7:8, 20, 24, 25 e este poder. Esta comparação torna claro que o chifre pequeno e a besta semelhante ao leopardo simbolizam o mesmo poder. O chifre pequeno é reconhecido como um símbolo do papado. Podemos dar seis pontos que estabelecem sua identidade:
1. O chifre pequeno era um poder blasfemo. “Proferirá palavras contra o Altíssimo.” (Daniel 7:25). A besta semelhante ao leopardo de Apocalipse 13:6 faz o mesmo: “Abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus”.
2. O chifre pequeno fazia guerra contra os santos e os vencia (Daniel 7:21). Também esta besta (Apoc. 13:7) faz guerra aos santos e os vence.
3. O chifre pequeno tinha uma boca que falava grandiosamente (Daniel 7:8, 20). E desta besta lemos: “E foi-lhe dada uma boca para proferir grandes coisas e blasfêmias.” (Apoc. 13:5).
4. O chifre pequeno levantou-se ao cessar a forma pagã do Império Romano. A besta de Apocalipse 13:2 surge no mesmo tempo, porque o dragão, Roma pagã, dá-lhe o seu poder, seu trono e grande autoridade.
5. Foi dado poder ao chifre pequeno para continuar por um tempo e tempos e metade de um tempo (Dan. 7:25). A esta besta também foi dado poder por quarenta e dois meses, ou 1.260 anos (Apoc. 13:5).
6. No fim daquele período especificado de 1.260 anos, os “santos”, “os tempos” e a “lei” iam ser libertos da “mão” do chifre pequeno (Dan. 7:25). No fim do mesmo período a própria besta semelhante ao leopardo havia de ser levada “em cativeiro” (Apoc. 13:10). Ambas estas especificações se cumpriram no cativeiro e exílio do papa, e na derrocada temporária do papado pela França, em 1798.
Estes seis pontos provam satisfatoriamente a identidade do chifre pequeno, com a besta semelhante ao leopardo. Quando temos na profecia dois símbolos, como neste caso, representando poderes que entram em ação ao mesmo tempo no cenário, ocupam o mesmo território, mantêm o mesmo caráter, fazem a mesma obra, existem durante o mesmo espaço de tempo e têm o mesmo destino, esses símbolos representam o mesmo poder.
Recebeu uma ferida mortal. – A cabeça ferida de morte foi a papal. Somos levados a esta conclusão pelo princípio evidente de que o que é dito em profecia do símbolo de qualquer governo, aplica-se a esse governo só enquanto é representado por esse símbolo. Ora, Roma é representada por dois símbolos, o dragão e a besta semelhante ao leopardo, porque apresentou duas fases: a pagã e a papal. E o que se diz do dragão só se aplica a Roma na sua forma pagã, e o que se diz da besta semelhante ao leopardo só se aplica a Roma na sua forma pretensamente cristã de Roma. João diz que uma das cabeças desta última besta semelhante ao leopardo foi a que recebeu a ferida de morte. Em outras palavras, esta ferida foi infligida à forma de governo que existia no Império Romano depois da mudança do paganismo ao cristianismo. É então evidente que a cabeça papal foi a que resultou ferida de morte e cuja ferida mortal foi curada. O ser assim ferida é o mesmo que ir em cativeiro (Apoc. 13:10). Foi infligida a ferida quando o papa foi levado prisioneiro pelo general francês Berthier, e o governo papal foi temporariamente abolido, em 1798. Despojado do seu poder, tanto civil como eclesiástico, o cativo papa Pio VI morreu no exílio, em Valença, na França, em 29 de agosto de 1799. Mas a ferida mortal foi curada quando o papado foi restabelecido, embora com uma diminuição do seu antigo poder, pela eleição de um novo papa, em 14 de março de 1800. (Ver Bower, History of Popes, págs. 404-428; George Croly, The Apocalypse of St. John, pág. 251).

Versículos 5-10 – Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses; e abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu. Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação; e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém leva para cativeiro, para cativeiro vai. Se alguém matar à espada, necessário é que seja morto à espada. Aqui está a perseverança e a fidelidade dos santos.

Profere blasfêmias. – Esta besta abre a sua boca “em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu.” Já se mencionou, nos comentários sobre o livro de Daniel, o significado da expressão: “Falará palavras contra o Altíssimo.” (Dan. 7:25) No verso 5 deste capítulo, são usadas palavras semelhantes, pois tinha “boca que proferia arrogâncias”. Mas é acrescentado “blasfêmias”, o que indica evidentemente que as “arrogâncias” seriam declarações blasfemas contra o Deus do céu.
Nos Evangelhos encontramos duas indicações do que constitui uma blasfêmia. Em João 10:33 lemos que os judeus acusaram falsamente a Jesus de blasfemar porque disseram: “sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo”. A acusação no caso do Salvador era falsa, porque Ele era o Filho de Deus, era “Emanuel, Deus conosco”. Mas quando um homem assume as prerrogativas de Deus e os títulos da Divindade, isto constitui uma blasfêmia.
Em Lucas 5:21 os fariseus procurando surpreender a Jesus em Suas palavras, perguntam: “Quem é este que diz blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?” Jesus podia perdoar pecados porque Ele era o divino Salvador. Mas quando um homem mortal declara ter tal autoridade, ele certamente blasfema.
Poderíamos perguntar se o poder apresentado por este símbolo cumpriu esta parte da profecia. Nos comentários sobre Daniel 7:25 vimos claramente que tinha falado “palavras contra o Altíssimo”. Observemos agora o que é dito acerca de como o sacerdócio pretende perdoar pecados:
“O sacerdote ocupa o lugar do próprio Salvador, pois ao dizer: ‘Ego te absolvo’ [Eu te absolvo], absolve do pecado. . . . Para perdoar um só pecado se requer toda a Onipotência de Dias. . . . Mas o que unicamente Deus pode fazer por sua Onipotência, o sacerdote pode fazê-lo também dizendo: ‘Ego te absolvo a peccatis tuis’ ... Inocêncio III escreveu: ‘Na verdade, não é exagerado dizer que em vista do caráter sublime de seu cargo, os sacerdotes são outros tantos deuses.’ ” – Alfonso de Ligório, Dignity and Duties of the Priest, págs. 34-36.

Notemos ainda outras declarações blasfemas daquele poder:
“Mas nossa admiração deve ser muito maior quando encontramos que em obediência às palavras de seus sacerdotes: HOC EST CORPUS MEUM [Este é o meu corpo], Deus mesmo desce ao altar, acode aonde quer que o chamem, e se coloca em suas mãos, mesmo que sejam seus inimigos. E tendo acudido, fica, completamente a seu dispor; eles o transladam como querem de um lugar a outro; podem, se assim o desejam, encerrá-lo no tabernáculo, ou expô-lo sobre o altar, e levá-lo fora da igreja; podem, se quiserem, comer sua carne e dá-lo para alimentar a outros. ‘Oh, quão grande é seu poder’ – diz São Lorenzo Justiniano, falando dos sacerdotes. – Cai uma palavra de seus lábios, e o corpo de Cristo está aqui substancialmente formado com a matéria do pão, e o Verbo Encarnado descendo do céu se acha realmente presente sobre a mesa do altar!’ ” – Idem, págs. 26, 27.

“Assim pode o sacerdote, em certa maneira, ser chamado criador de seu Criador. . . .’O poder do sacerdote – diz São Bernardino de Siena – é o poder da pessoa divina; porque a transubstanciação do pão requer tanto poder como a criação do mundo.’ ” – Idem, págs. 32, 33.

Assim é como esta potência representada pela besta blasfema contra o templo do Céu, chama a atenção de seus súditos para seu próprio trono e palácio em vez de ao tabernáculo de Deus, desviando sua atenção do sacrifício do Filho de Deus ao sacrifício da missa.
Blasfema contra os que moram no Céu, assumindo o poder de perdoar os pecados, e assim desvia aos homens da obra mediadora de Cristo e Seus assistentes celestiais no santuário do alto.
O verso 10 nos faz voltar aos eventos de 1798, quando esse próprio poder, que durante o 1.260 anos manteve os santos de Deus em cativeiro, foi levado em cativeiro.

Versículo 11 – Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão.

Este versículo apresenta o terceiro grande símbolo da cadeia profética que estamos examinando, geralmente denominado a besta de dois chifres. Perguntamos qual a sua aplicação. O dragão, a Roma pagã, e a besta semelhante ao leopardo, a Roma papal, apresentam-nos grandes organizações como representantes de dois grandes sistemas de religião falsa. A analogia pareceria requerer que o restante símbolo, a besta de dois chifres, tenha uma aplicação semelhante, e encontre o seu cumprimento em alguma nação, representativa ainda de outro grande sistema de religião. O único sistema restante que está exercendo uma influência dominadora no mundo hodierno é o protestantismo. Abstratamente considerado, o paganismo abrange todos os países pagãos, com mais de metade da população do globo. O catolicismo, que pode ser considerado como abrangendo a religião da igreja grega ortodoxa, quase parecida com ele, pertence a nações que constituem uma grande parte da cristandade. Em outras profecias foi-nos delineado o quadro do maometismo e sua influência (ver os comentários sobre Daniel 11 e Apocalipse 9). Mas o protestantismo é a religião das nações que constituem a vanguarda do mundo quanto à liberdade, ilustração, progresso e poder.
Um símbolo dos Estados Unidos. – portanto, se o protestantismo é a religião que devemos buscar, a que nação, como representante daquela religião, se aplica a profecia? Há notáveis nações protestantes na Europa, mas por razões que se verão depois, o símbolo não pode aplicar-se a elas. Uma cuidadosa investigação levou-nos à conclusão de que se aplica à América protestante, ou seja aos Estados Unidos da América do Norte. Vamos considerar cuidadosamente a razão de tal aplicação e a evidência em que se apóia.
Há razões pelas quais devemos esperar que os Estados Unidos sejam mencionados na profecia? Em que condições encontraram outras nações um lugar no registro profético? Primeiro, porque desempenharam um papel importante na história do mundo; e segundo, porque tiveram jurisdição sobre o povo de Deus ou com esse povo mantiveram importantes relações. Nos relatos da Bíblia e da história secular encontramos dados donde deduzimos esta regra acerca da menção profética dos governos terrestres: Uma nação entra na profecia sempre que a obra e o destino do povo de Deus ficam definitivamente vinculados a ela. Todas estas condições certamente se observaram no caso dos Estados Unidos. Atraiu a atenção de muitas mentes a convicção de que o nascimento e o progresso desta nação foram tais que a Providência considerou adequado predizê-los na profecia.
O governador Pownal, estadista inglês, predisse em 1780, estando em prosseguimento a Revolução Americana, que este país se tornaria independente, e que o animaria uma atividade civilizadora muito além da que a Europa jamais conheceu; e que chegaria a todos os confins do globo seu poder comercial e naval. Menciona em seguida o provável estabelecimento deste país como um poder livre e soberano, e o chama “uma revolução com mais estranhos indícios de intervenção divina, em substituição do curso ordinário dos negócios humanos, do que qualquer acontecimento que o mundo tenha experimentado.” – Citado por Charles Summer, “Prophetic Voices About America”, in Atlantic Monthly, September, 1867, pág. 290.
George Alfred Townsend, falando dos infortúnios que sobrevieram aos outros governos neste continente, diz:
“A história dos Estados Unidos foi separada por uma Providência benéfica para longe da selvagem e cruel história do resto do continente.” – George Alfred Townsend, New World Compared With the Old, pág. 635.

Considerações como estas sugerem a cada mente a forte expectativa de que a nação de que nos ocupamos tenha um papel a desempenhar para levar avante os providenciais propósitos de Deus neste mundo, e de que se fale dele na palavra profética.
Cronologia deste poder. – Em que período da história deste mundo a profecia localiza o surgimento deste poder? Sobre este ponto o fundamento para as conclusões a que devemos chegar já está posto nos fatos descobertos com relação à besta semelhante ao leopardo. Seria quando a besta foi para o cativeiro, ou foi morta com a espada (verso 10) ou quando teve uma das suas cabeças ferida de morte (verso 3), pois então é que João viu subir a besta de dois chifres. Se a besta semelhante ao leopardo, significa o papado, como comprovamos, e a ida em cativeiro encontra seu cumprimento na destruição temporária do papado pelos franceses em 1798, então temos definidamente especificado o tempo em que devemos procurar o nascimento deste poder. A expressão “subir” deve significar que o poder a que se refere era recém organizada, e assumia então preeminência e influência.
Pode alguém ter dúvida sobre qual nação esteve a “subir” em 1798? Certamente se tem de admitir que os Estados Unidos são o único poder satisfaz as especificações da profecia neste ponto da cronologia.
A luta das colônias americanas pela independência iniciou-se em 1775. Em 1776 foram declarados nação livre e independente. Em 1777 se reuniram em Congresso e adotaram os artigos de sua Confederação, os delegados dos treze estados originais: New Hampshire, New Jersey, Pennsylvania, Delaware, Maryland, Virginia, North Caroline e South Caroline, e Georgia. Em 1783 terminou a guerra da Independência com um tratado de paz com Grã-Bretanha, que reconhecia a independência dos Estados Unidos e lhes concedia mais de milhões de quilômetros quadrados de território. Em 1787 foi elaborada uma Constituição; em 26 de julho de 1788 haviam ratificado onze dos estados originais; e entrou em vigor em 1º de março de 1789. Os Estados Unidos começaram, pois, com algo mais que dois milhões de quilômetros quadrados de superfície e menos de quatro milhões de habitantes. Assim chegamos ao ano 1798, quando a nação foi introduzida na profecia.
Wesley nas suas notas sobre Apocalipse 14, escritas em 1754, diz da besta de duas pontas:
“Ainda não veio, embora não possa estar longe, porque deve aparecer no fim dos quarenta e dois meses da primeira besta.” – John Wesley, Explanatory Notes Upon the New Testament, pág. 735, Comment on Revelation 13:11.

Idade deste poder. – Há na profecia boas evidências de que o governo simbolizado pela besta de dois chifres é introduzido na primeira parte da sua carreira, quer dizer, enquanto era um poder ainda jovem. As palavras de João são: “E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro.” Por que não diz João simplesmente: “Tinha dois chifres”? Por que acrescenta: “Semelhantes aos de um cordeiro”? Deve ser com o propósito de denotar o caráter desta besta, mostrando que não apenas se conduz de modo inocente e inofensivo, mas também que é um poder jovem, porque os chifres de um cordeiro são chifres que mal começam a crescer.
Tenhamos em mente que pelo argumento precedente sobre a cronologia o nosso olhar se fixou no ano 1798, quando o poder simbolizado era jovem. Que poder notável começava nessa altura a tornar-se eminente, mas ainda jovem? Não era a Inglaterra, nem a França, nem a Rússia, nem qualquer outro poder europeu. Procurando um poder jovem que se levanta nessa época, somos obrigados a voltar os nossos olhos para o Novo Mundo. Mas logo que os voltamos nesta direção, fixam-se inevitavelmente sobre os Estados Unidos como sendo o poder em questão. Nenhum outro poder deste lado do Oceano quadra com a descrição.
Localização da besta de dois chifres. – Uma só declaração da profecia basta para nos guiar a importantes e corretas conclusões sobre este ponto. João chama-a “outra besta”. Não é certamente nenhuma parte da primeira besta; e o poder simbolizado por ela também não é parte do que é representado pela primeira besta. Isto é fatal para a pretensão dos que, para evitar a aplicação deste símbolo aos Estados Unidos, dizem que se trata de alguma fase do papado, pois em tal caso constituiria uma parte da besta precedente, a besta semelhante ao leopardo.
Visto que é “outra” besta que subia da terra, deve ser procurado em algum território não abrangido por outros símbolos. Vejamos, pois, sumariamente, os símbolos da Palavra de Deus que representam governos terrestres. Babilônia e Medo-Pérsia abrangiam toda a parte civilizada da Ásia. A Grécia abrangia a Europa ocidental, inclusive Rússia. Roma, com os dez reinos em que foi dividida, segundo representado pelos dez dedos da estátua de Daniel 2, os dez chifres da quarta besta de Daniel 7, os dez chifres do dragão de Apocalipse 12 e os dez chifres da besta semelhante ao leopardo de Apocalipse 13, abrangia toda a Europa ocidental. Em outras palavras, todo o hemisfério oriental conhecido pela história e a civilização fica abrangido por símbolos proféticos acerca de cuja aplicação não resta a menor dúvida.
Mas há uma poderosa nação no hemisfério ocidental, que é, como vimos, digna de ser mencionada na profecia, mas que ainda não foi apresentada. Resta um símbolo cuja aplicação ainda não foi feita. Todos os símbolos, exceto um, estão aplicados, e todas as partes do hemisfério oriental estão abrangidas pelas aplicações. De todos os símbolos mencionados, só resta um: a besta de dois chifres de Apocalipse 13. De todos os países da Terra dos quais há motivo para serem mencionados em profecia só resta um: os Estados Unidos da América do Norte. Representa os Estados Unidos a besta de dois chifres? Se assim for, então todos os símbolos têm aplicação e é abrangido todo o território. Se não, então os Estados Unidos não estão representados na profecia, e a besta de dois chifres não tem nenhuma nação a que possa aplicar-se. Mas a primeira destas suposições não é provável e a segunda não é possível.
Outra consideração que indica o local deste poder é extraída do fato de que João viu a besta subir da terra. Se o mar, donde a besta semelhante ao leopardo sobe (Apoc. 13:1), representa povos, nações e multidões (Apoc. 17:15), a terra deve sugerir, por contraste, um território novo e anteriormente desocupado. Se excluímos os continentes orientais e buscamos um território anteriormente desconhecido para a civilização, voltamo-nos necessariamente para o hemisfério ocidental.
Como surgiu. – A maneira como subiu a besta de dois chifres prova, juntamente com a sua localização, sua idade e sua cronologia, que se trata de um símbolo dos Estados Unidos. João viu a besta subir “da terra”. Esta expressão deve ter sido usada de propósito para estabelecer o contraste entre o surgimento desta besta e o de outros símbolos proféticos nacionais. As quatro bestas de Daniel 7 e a besta semelhante ao leopardo de Apocalipse 13 subiram todas do mar. As novas nações levantam-se geralmente pela extinção de outras nações e ocupam o seu lugar. Mas nenhuma outra nação foi abatida para dar lugar aos Estados Unidos, e a luta pela independência já estava quinze anos no passado quando entrou no campo da profecia. O profeta viu só um quadro de paz.
A palavra usada no versículo 11 para descrever o modo como esta besta sobe é muito expressiva. É anabainon, e uma de suas definições é: “Crescer ou brotar como uma planta”. E é um fato notável que esta mesma figura foi escolhida por escritores políticos, sem referência à profecia, como sugerindo a melhor idéia do modo como nasceram os Estados Unidos.

George Alfred Townsend, diz:
“Nessa teia de ilhas, as Antilhas, começou a vida de ambas as Américas [do Norte e do Sul]. Ali viu Colombo a terra. Ali começou a Espanha seu brilhante império ocidental. Dali partiu Cortez para o México, de Soto para o Mississipi, Balboa para o Pacífico, e Pizarro para o Peru. A história dos Estados Unidos foi separada por uma benéfica providência desta selvagem e cruel história do resto do continente, e como silenciosa semente crescemos até chegar a ser um império. Ao mesmo tempo o próprio império, começando ao sul, foi varrido por tão interminável tempestade, que da sua história o que podemos assegurar é lido à luz dos próprios relâmpagos que o devastaram. O crescimento da América inglesa pode comparar-se a uma série de cantos líricos cantados por isolados cantores, que, fundindo-se, formam por fim um vigoroso coro, e este, atraindo a muitos de longe, cresce e prolonga-se, até que hoje assume a dignidade e proporções de canto épico.” – George Alfred Townsend, The New World Compared With the Old, pág. 635.

Um escritor na Nation, de Dublin, falou dos Estados Unidos como de um maravilhoso império que “surgira” e “diariamente aumentara seu poder e orgulho no meio do silêncio da terra.”
Edward Everett, em um extrato do discurso sobre os exilados ingleses que fundaram este governo, ele diz:
“Procuravam um local retirado, inofensivo pela sua obscuridade, seguro no seu afastamento, onde a pequena igreja de Leyden pudesse gozar liberdade de consciência? Eis as poderosas regiões sobre as quais, em conquista pacífica – victoria sine clade [vitória sem luta] – hastearam os estandartes da cruz.” – Edward Everett, Oration Delivered at Plymouth, December 22, 1824. Orations and Speeches, pág. 42.

Queira o leitor agora comparar as expressões “emergir da terra” e “emergira no meio do silêncio da terra”, “como silenciosa semente crescemos e convertemo-nos em império”, “poderosas regiões” ocupadas por “conquista pacífica”. A primeira é do profeta, afirmando o que sucederia quando a besta de dois chifres se levantasse. As outras são de escritores políticos dizendo o que sucedeu na história dos Estados Unidos. Pode alguém deixar de ver que as últimas três são sinônimas da primeira, e que registram um cumprimento absoluto da predição?
Outra pergunta segue, naturalmente: Subiram os Estados Unidos de modo a cumprir os pormenores da profecia? Vejamos: Pouco antes da grande reforma dos dias de Martinho Lutero, há mais de quatrocentos anos, foi descoberto este hemisfério ocidental. A Reforma despertou as nações, agrilhoadas sob as pesadas cadeias da superstição, para o fato de que todo homem tem o divino direito de adorar a Deus segundo os ditames da sua própria consciência. Mas os governantes não queriam perder a sua força, e a intolerância religiosa ainda oprimia o povo. Em tais circunstâncias um corpo de heróis religiosos determinou por fim procurar nas selvas americanas aquela medida de liberdade civil e religiosa que tanto almejavam. Na busca do seu nobre intento cem desses exilados voluntários desembarcaram do Mayflower nas costas de Nova Inglaterra, em 21 de dezembro de 1620. “Ali”, diz Martyn, “nasceu a Nova Inglaterra”, e este foi “o seu primeiro balbuciar de criança uma oração e ações de graças a Deus.”
Outra colônia inglesa permanente foi estabelecida em Jamestown, Virgínia, em 1607. Com o decurso do tempo outras bases se estabeleceram, organizando-se colônias, todas elas sujeitas à coroa inglesa, até a Declaração da Independência, em 4 de julho de 1776.
A população destas colônias, eleva-se em 1701 a 262.000; em 1749, a 1.406.000; em 1775, a 2.803.000. (United States Magazine, vol. 2, agosto, 1855, pág. 71). Então começou a luta pela independência, o estabelecimento de um governo unido e a proclamação ao mundo de que todos ali podiam encontrar asilo da opressão e intolerância. Do Velho Mundo chegaram imigrantes aos milhares, e por meios pacíficos aumentaram a população e a prosperidade material da nova nação. Foram comprados grandes territórios ou adquiridos por tratado para que houvesse lugar onde instalar todos os que viessem. Agora, num salto de mais de 150 anos, para chegar ao segundo quarto do século XX, encontramos que o território dos Estados Unidos expandiu-se até ocupar mais de oito milhões de quilômetros quadrados, e sua população se elevou a 140.000.000 de habitantes.
O desenvolvimento dos Estados Unidos em sua prosperidade material e ilustração assombra o mundo, fornecendo ampla base para a aplicação da profecia.
O caráter de seu governo simbolizado. – Nesta divisão do assunto encontramos evidências adicionais de que o símbolo representa os Estados Unidos. Ao descrever este poder João diz que ele tinha “dois chifres semelhantes aos de um cordeiro”. Os chifres de um cordeiro indicam, juventude, inocência e amabilidade. Como poder recém criado, os Estados Unidos correspondem admiravelmente ao símbolo no que respeita à idade, porquanto nenhuma outra nação, se encontra nessas condições. Se considerarmos como índice de poder e caráter, é fácil descobrir o que constitui os dois chifres do governo, se conseguirmos certificar-nos do segredo da sua força e poder, e do que revela seu caráter aparente ou constitui sua profissão externa. O honorável J. A. Bingham dá-nos a chave de todo o assunto quando afirma que o objetivo de todos os que primeiro buscaram estas praias da América do Norte era fundar “o que o mundo não tinha visto durante séculos, a saber, uma igreja sem papa e um estado sem rei.” Ou em outras palavras, um governo em que o poder eclesiástico devia estar separado do civil; quer dizer, um governo caracterizado pela liberdade civil e religiosa.
Não é preciso argumentos para demonstrar que isto é precisamente o que professa o governo norte-americano. O artigo IV, seção 4 da Constituição dos Estados Unidos diz: “Os Estados Unidos garantirão a cada estado desta União uma forma republicana de governo.” O artigo VI: “Nenhuma prova religiosa será jamais requerida como qualificação para qualquer ofício ou cargo público nos Estados Unidos.” A primeira emenda feita na Constituição começa assim: “O Congresso não fará nenhuma lei acerca do estabelecimento de religião, ou proibindo o livre exercício dela.” Estes artigos professam a mais ampla garantia de liberdade civil e religiosa, a completa e perpétua separação da Igreja e do Estado. Que melhores símbolos disso podiam ser dados do que “dois chifres semelhantes aos de um cordeiro”? Em que outro país se pode encontrar uma condição de coisas que corresponda tão completamente a este aspecto do símbolo de Apocalipse 13?
Republicano em sua forma. – A besta de dois chifres carece de coroas tanto na cabeça como nos chifres, pois simboliza uma nação com uma forma republicana de governo. A coroa é um símbolo apropriado de uma forma de governo monárquico ou ditatorial, e a ausência de coroas neste caso sugere um governo em que o poder não reside em um único membro governante, porém nas mãos do povo.
Mas esta não é a prova mais concludente de que a nação aqui simbolizada é republicana em sua forma de governo. O versículo 14 nos indica que é feito um apelo ao povo quando se realiza qualquer ação nacional: “Dizendo aos que habitam na Terra, que fizessem uma imagem à besta.” Este é enfaticamente o caso nos Estados Unidos. A Constituição sobre a qual estão fundados garante “uma forma republicana de governo”, como já demonstramos. Este é outro forte elo na cadeia de evidências de que este símbolo deve aplicar-se aos Estados Unidos da América. Não existe outro governo ao qual possamos aplicar razoavelmente este símbolo.
Uma nação protestante. – A besta de dois chifres simboliza uma nação não pertencente à religião católica. O papado é fundamentalmente uma união da Igreja e o Estado. A Constituição dos Estados Unidos da América do Norte (artigo VI) declara: “Nenhuma prova religiosa será jamais requerida como qualificação para qualquer ofício ou cargo público nos Estados Unidos.” Com isso estabelece uma eterna separação da Igreja e o Estado. A liberdade civil e religiosa é um princípio fundamental do protestantismo. Os fundadores do grande país que chegou a ser os Estados Unidos, por terem vivido em tempos que lhes permitiram presenciar os resultados da união da Igreja com o Estado, mostraram-se zelosos pelas liberdades que consideram e declaram direitos de todos, e denunciavam a união da Igreja e o Estado. Portanto, do ponto de vista religioso Os Estados Unidos são uma nação protestante e cumprem admiravelmente os requisitos da profecia a este respeito. Assim, a profecia mais uma vez aponta diretamente esta nação.
Antes de entrar na discussão deste símbolo profético, recapitulemos os pontos já estabelecidos:
O poder simbolizado pela besta de dois chifres deve ser uma nação distinta dos poderes civis ou eclesiásticos do Velho Mundo.
Deve surgir no hemisfério ocidental.
Deve assumir preeminência e influência por volta do ano 1798.
Deve surgir de um modo pacífico e sossegado, não aumentando o seu poder com guerras agressivas e prósperas conquistas, como tem sucedido com outras nações.
O seu progresso deve ser tão evidente que maravilhará tanto quem o observa como o faria o perceptível crescimento de um animal perante seus olhos.
Deve ser republicano em sua forma de governo.
Deve ser protestante em sua religião.
Devem apresentar ao mundo, como um índice de seu caráter e dos elementos do seu governo, dois grandes princípios que são em si mesmos perfeitamente justos, inocentes e com o caráter de cordeiro.
Deve realizar a sua obra depois de 1798.
Vimos que destes nove pormenores pode dizer-se que todos eles perfeitamente se cumprem na história dos Estados Unidos; e que não se cumprem na história de nenhum outro nação. É, portanto, impossível aplicar o símbolo de Apocalipse 13:11 a qualquer outra nação senão os Estados Unidos da América do Norte.
Falará como dragão. – Agora que identificamos os Estados Unidos da América do Norte como o poder simbolizado pela besta de dois chifres, podemos, sem temor nem preconceito, rastrear o curso que esta nação segue segundo o que a própria profecia traçou. Ao fazê-lo, observemos de novo que o dragão, o primeiro elo nesta cadeia profética, foi incansável perseguidor da igreja de Deus. A besta semelhante ao leopardo, que o seguia, foi igualmente um poder perseguidor, ceifando durante 1.260 anos milhões de vidas de seguidores de Cristo. Ao chegarmos à terceira besta, com dois chifres semelhantes ao do cordeiro, é dito que “falava como dragão”. Isto não pode senão significar que em algum momento mudará sua natureza de cordeiro para dragão, de modo a falar como dragão e agir como teria agido o dragão anteriormente.
Peço vênia para dizer com relação a isto que nos é doloroso ver que uma nação nascida tão pacificamente e consagrada a princípios de governo tão nobres chegará a assumir a natureza das bestas que a precederam e, fazendo isso, se rebaixará até perseguir o povo de Deus. Porém, não nos resta outro remédio senão deixar-nos guiar em nosso estudo pelo esboço divinamente inspirado na profecia. Visto que os Estados Unidos são o poder visado por este símbolo que fala como o dragão, segue-se que este governo há de promulgar leis injustas e opressoras contra a profissão e prática religiosas de alguns dos seus cidadãos a ponto de merecer o nome de poder perseguidor.

Versículo 12 – Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada.

Exercerá um poder perseguidor. – Esta nação, não apenas fala como dragão, mas também se declara que “exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença”. Se lançamos um olhar retrospectivo, vamos descobrir que a primeira besta é a besta semelhante ao leopardo, símbolo do papado. A única conclusão que se pode tirar é que uma nação chamada protestante exercerá o poder perseguidor do papado e, portanto, virá a ser, portanto, pseudo-protestante, quer dizer o “falso profeta” mencionado em Apocalipse 19:20 e explicado assim:
Esta nação exerce o poder coagindo o povo sob sua jurisdição a que “adorem a primeira besta”, o papado. A palavra grega traduzida aqui por “adorar” é muito significativa, pois vem do verbo kuneo, “eu beijo”, com uma proposição que indica que o beijo dirige-se a alguém, neste caso o papado, ou seu titular, o papa. Geralmente é traduzido como “render homenagem, prostrar-se diante de”, conforme a versão LXX no decreto de Nabucodonosor a todos os “povos, nações e homens de todas as línguas”, que lhes ordenava: “vos prostrareis e adorareis a imagem de ouro” levantada pelo rei Nabucodonosor na campo de Dura. (Dan. 3:4, 5). Esta adoração deve significar a submissão das nações à autoridade e decreto das pessoas a quem tributam homenagem. Tal é o quadro que a profecia apresenta com respeito à adoração tributada ao papado por um povo chamado protestante.

Versículos 13, 14 – Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens. Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu.

Opera grandes sinais.” – Na parte da predição que apresenta a obra da besta de dois chifres lemos que “opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens” Neste pormenor temos ainda outra prova de que os Estados Unidos são o poder representado pela besta de dois chifres. Ninguém nega que estamos vivendo numa época de sinais ou maravilhas. Remetemos o leitor a nossas observações sobre Daniel 12:4 acerca dos feitos assombrosos de nossa época e acerca de algumas ilustrações dos grandes triunfos da criativa investigação científica.
Mas esta profecia não está cumprida no grande avanço em conhecimento, nas descobertas e invenções, tão notáveis na época presente, porque os sinais e maravilhas a que o profeta se refere são evidentemente operados com o propósito de enganar o povo, como lemos no versículo 14: “E engana os que habitam na Terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta.”
Devemos agora determinar por que meios são operados os milagres em questão, porque Apocalipse 16:13, 14 fala de “espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro”.
O Salvador, ao predizer acontecimentos a ocorrer logo antes da Sua segunda vinda, diz: “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.” (Mat. 24:24). Nesta passagem são preditos sinais, operados com o propósito de enganar, tão poderosos que, se fosse possível, até os próprios escolhidos seriam enganados por eles.
Assim, temos uma profecia (e há muitas outras) apresentando o desenvolvimento, nos últimos anos, de um poder operador de prodígios, manifestado num grau espantoso e sem precedentes no interesse de propagar a mentira e o erro. Os “espíritos de demônios” iriam a “todo o mundo”, mas a nação com a qual isto estaria especialmente relacionado é em Apocalipse 13 é o mesmo representado pela besta de dois chifres, ou o falso profeta. Devemos concluir, portanto, que a profecia indica que tal obra se realizará nos Estados Unidos. Vemos nós algo semelhante?
Entre todas as classes da sociedade existe a crença e o ensino bem difundida de que o ser humano ao morrer e seu corpo baixar à tumba, a algo desprende-se dele para ir a um lugar de recompensa ou castigo, um “espírito” ou “alma imortal. Tal crença leva-nos a perguntar: “Se os espíritos desencarnados estão vivos, por que não poderiam comunicar-se conosco?” Milhares crêem que o podem fazer e o fazem, e são também numerosos os que dizem receber comunicações de seus amigos mortos.
Mas a Bíblia, nos mais explícitos termos, assegura-nos que os mortos estão inteiramente inativos e inconscientes até a ressurreição; que os mortos não sabem coisa alguma (Ecl. 9:5); que cessou toda a operação da mente (Sal. 146:4); que está suspensa toda a emoção do coração (Ecl. 9:6); e que não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma na sepultura, onde jazem (Ecl. 9:10). Portanto, qualquer ser ou espírito que vem até nós pretendendo ser um dos nossos amigos mortos, pretende algo que a Palavra de Deus declara ser impossível.
Que nossos amigos ou parentes mortos não voltam a nós fica demonstrado em 2 Samuel 12:23, onde Davi diz acerca de seu filho morto: “Agora que é morta [a criança] ... Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim.” Qualquer ser ou espírito que vem a nós não pode ser um anjo bom, porque os anjos de Deus não mentem. Os espíritos de demônios sim mentem, pois neste caso nisso consiste sua obra desde que seu líder enunciou a primeira mentira no Éden acerca da morte: “Não morrereis” (Gên. 3:4; 2:17).
Onde nasceu o espiritismo. – O espiritismo corresponde à profecia no fato de ter a sua origem nos Estados Unidos, relacionando assim seus sinais com a obra da besta de dois chifres. Iniciando em Hydesville, estado de Nova York, na família de John D. Fox, na última parte de março de 1848, espalhou-se com incrível rapidez através de todo o mundo.
Estas supostas revelações causaram muita agitação, e algumas pessoas eminentes começaram a investigar o “engano das batidas”, como eram geralmente chamados os fenômenos espiritualistas. Desde então o espiritismo tem sido uma força crescente no mundo moderno. É difícil determinar o número de seus adeptos, porque muitos dos que crêem e praticam seus ensinos declaram não pertencer a nenhuma denominação; mas por outro lado muitos dos que continuam pertencendo a diferentes organizações religiosas tentam, porém, comunicar-se com os mortos. Foi calculado que há 16.000.000 espíritas na América do Norte; e no mundo inteiro, incluindo os adeptos das religiões pagãs nas quis o espiritismo desempenha um papel muito importante, alcançam um total de mais de centenas de milhões.
Como observou Sir Arthur Conan Doyle faz alguns anos:
“As humildes manifestações de Hydesville amadureceram e produziram resultados que atraíram o grupo mais seleto de intelectuais deste país durante os últimos vinte anos, e que na minha opinião estão destinados ao maior desenvolvimento da experiência humana que o mundo jamais viu.” – Sir Arthur Conan Doyle, “The New Revelation”, Metropolitan Magazine, janeiro, 1918, pág. 69.

“Se tal opinião do cristianismo fosse aceita em geral, e fosse reforçada pela certeza e demonstração da nova revelação que, na minha opinião, nos vem do mais além, parece-me que teríamos um credo que poderia unir as igrejas, estar reconciliado com a ciência, desafiar todos os ataques e manter a fé cristã por tempo indefinido.” – Idem, pág. 75.

Ensinos do espiritismo. – As doutrinas que os espíritas ensinam são diretamente contrárias à Palavra de Deus. Com relação à sua atitude para com a Bíblia, note-se o parágrafo seguinte:

“Não queremos ocultar o simples fato de que há algumas partes da Bíblia que não formam amálgama com o nosso ensino, pois na verdade são a mistura do erro que chegou por meio do médium escolhido.” – William Stainton Moses, Spirit Teachings, pág. 74.
“Em nenhum caso os livros, em sua condição atual, são obra do autor a quem são atribuídos. Constituem a compilação de Esdras e seus escribas e não fazem senão incorporar os conceitos e as lendas da época. ... Mencionamos isto para evitar imediatamente a necessidade de responder a quaisquer passagens desses livros que possam ser citadas como argumento.” – Idem, pág. 189.

Leiamos agora o que os espíritas pensam de Cristo:
“Eles [os espíritos] testemunham também que Jesus Cristo não tem nada a ver com a questão da vida e morte, e eles nada sabem a respeito da ‘mediação de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.’ ” – James A. Findlay, The Rock of the Truth, pág. 288.

Tampouco tem cabida o credo do espiritismo sobre o segundo advento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo:
“Jesus Cristo está agora ordenando seus planos para ajuntar o seu povo, para melhor revelar a verdade e purificar as crenças errôneas que foram acumuladas no passado. Ouvi algo disso de outras fontes. É isso então o retorno de Cristo? É o retorno espiritual. Não haverá retorno físico como o homem sonhou. Assim será seu regresso ao seu povo, pela voz de seus mensageiros falando àqueles que têm os ouvidos abertos.” – William Stainton Moses, Spirit Teachings, págs. 150, 151.

Os fenômenos do espiritismo. – Quão significativas são estas palavras!. Há séculos o vidente de Patmos declarou que nos Estados Unidos iria levantar-se um poder que faria “grandes sinais”, e aqui se apresenta o espiritismo declarando fazer estas coisas.
O espiritismo corresponde exatamente à profecia na exibição de grandes sinais e prodígios. Entre as suas muitas proezas podem-se mencionar estas: Vários objetos têm sido transportados de um lugar para o outro pelos espíritos; bela música produzida independentemente de qualquer intervenção humana com e sem o auxílio de instrumentos visíveis; numerosos casos comprovados de cura; pessoas transportadas através do espaço pelos espíritos na presença de muitas outras; levitação de mesas, que ficavam suspensas no ar, com várias pessoas nelas; têm-se apresentado espíritos em forma corpórea, falando com voz audível.
O poder representado nesta profecia irá fazer fogo descer à terra diante dos homens. Mas isto, como as demais manifestações de seu poder tem por fim enganar “os moradores da terra”. Os milagres são realizados pelos “espíritos de demônios” (Apoc. 16:14). E são muitas as admoestações da Palavra de Deus contra o estabelecer relações com os maus espíritos. Na época da igreja primitiva foram dadas solenes advertências à igreja de Deus: “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios” (1 Tim. 4:1). O conselho que Deus dá a Seu povo nestes últimos dias é: “Quando vos disserem: Consultai os necromantes e os adivinhos, que chilreiam e murmuram, acaso, não consultará o povo ao seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos? À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva.” (Isa. 8:19, 20).

Versículos 15-17 – E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta. A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome.

Cria uma imagem da besta. – Intimamente associada com esta operação de milagres está a criação de uma imagem à besta. O profeta relaciona assim as duas no versículo 14: “E engana os que habitam na Terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse na presença da besta, dizendo aos que habitam na Terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia.” O engano levado a efeito pela operação de milagres prepara o caminho para o cumprimento desta cláusula relativa à formação de uma imagem à besta.
Para compreender o que seria uma imagem do papado devemos primeiro fazer uma idéia definida do que constitui o próprio papado. O completo desenvolvimento da besta, ou o estabelecimento da supremacia papal, data da famosa carta de Justiniano, que se tornou efetiva em 538, constituindo o papa como cabeça da igreja e corregedor dos hereges. O papado era um igreja revestida de poder civil – um corpo eclesiástico com autoridade para punir todos os dissidentes com a confiscação de bens, prisão, torturas e morte. Que seria uma imagem do papado? Outra instituição eclesiástica revestida de poder civil. Como podia tal imagem ser formada nos Estados Unidos? Ao investir as igrejas protestantes de poder para definir e punir a heresia, para impor seus dogmas com as penas da lei civil, não teríamos uma representação exata do papado durante os dias da sua supremacia?
Certamente que teríamos. Mas é possível esta eventualidade num país cujas pedras fundamentais são a liberdade civil e religiosa, e onde o direito de cada um à “vida, liberdade e busca da felicidade” foram reconhecidos através dos anos? Vamos examinar as evidências:
Uma nação fundada na liberdade. – A mão de Deus acompanhou a homens nobres e tementes a Deus que lançaram os fundamentos da nova nação. Disse o Honorável Henrique D. Estabrook, falando perante a Associação de Advogados de Connecticut:
“Neste grande continente, que Deus mantivera oculto em um pequeno mundo, aqui, com um novo céu e uma nova terra, onde haviam passado as coisas velhas, vieram pessoas de várias direções, mas unida de coração, alma e espírito com um mesmo propósito, e edificou um altar à liberdade, o primeiro que jamais se construiu ou que se pudesse construir, e o chamou: A Constituição dos Estados Unidos.” – State Bar Association of Connecticut, Annual Report, 1916, pág. 73.

Isso foi em 1787. O profeta viu que por volta de 1798 subiria da terra a besta semelhante a um cordeiro. Certamente não se tratava de uma coincidência. Jorge Washington, o primeiro presidente dos Estados Unidos, disse em seu discurso inaugural:
“Nenhum povo pode sentir-se mais obrigado que o dos Estados Unidos em reconhecer e adorar a Mão Invisível que dirige os assunto humanos. Cada passo que tenha dado adiante para obter o caráter de nação independente parece ter distinguido por alguma amostra de atuação providencial.” – Annals of Congress, vol. 1, pág. 28.
Em sua resposta a este notável discurso, o senado declarou:
“Quando contemplamos a conjunção de circunstâncias e a maravilhosa combinação de causas que prepararam gradualmente o povo deste país para a independência; quando contemplamos a origem, o progresso e o fim da recente guerra, que lhe deu um nome entre as nações da terra; sentimo-nos, com Vossa Excelência, induzidos inevitavelmente a reconhecer e adorar o grande Árbitro do Universo, por quem os impérios se levantam e caem.” – Idem, pág. 32.

A luta contra a tirania religiosa. – Aqueles homens não eram apenas piedosos, e sim sábios e previdentes. Quando certos grupos religiosos pediram que “o reconhecimento explícito do único Deus verdadeiro e de Jesus Cristo” fosse incluído na Constituição, o pedido foi negado. Escrevendo sobre o incidente Tomas Jefferson disse:
“A inserção foi rechaçada por grande maioria, como prova de que desejava abranger com o manto de sua proteção o judeu e o gentio, o cristão e o maometano, o hindu e o infiel de toda denominação.” – The Writings of Thomas Jefferson, vol. 1, pág. 45.

Em 18 de fevereiro de 1874, a Comissão de Assuntos Judiciais da Câmara deu este relatório a um pedido semelhante:
“Como este país, de cujo governo lançavam então o fundamento, teria de ser a pátria dos oprimidos de todas as nações da terra, fossem cristãos ou pagãos, e compreendendo plenamente os perigos que a união entre a Igreja e o Estado havia imposto a tantas nações do Velho Mundo, com grande unanimidade [concordaram] que não convinha pôr na Constituição ou forma de governo algo que pudesse interpretar-se como referindo-se a qualquer credo religioso ou doutrina.” – United States House Report, Congresso 43, 1ª sessão, Nº 143.

A história testemunha o fato de que estes grandes homens que lançaram as pedras fundamentais sobre as quais foi construído os Estados Unidos olhavam com vistas ao futuro, com uma visão quase profética e distinguiram os perigos que a liberdade pessoal teria de enfrentar no país um dia. Seus temores foram bem expressos por Tomas Jefferson:
“O espírito dos tempos pode alterar-se, e se alterará. Nosso governantes se tornarão corruptos, nosso povo negligente. Um só vigilante pode iniciar a perseguição e homens melhores que ele podem ser suas vítimas. Nunca seria demasiado repetir que o momento de fixar todo direito essencial sobre uma base legal, é enquanto nossos governantes são honestos e nós mesmos unidos. Desde o fim desta guerra iremos de alto a baixo. Não será então necessário a cada momento recorrer ao povo para ter apoio. Portanto, será esquecido e se desprezará os seus direitos. O mesmo o esquecerá, exceto de toda habilidade de ganhar dinheiro, e jamais pensará em unir-se para obter o devido respeito por seus direitos. Portanto, as correntes que não façamos cair ao terminar esta guerra, ficarão muito tempo conosco, e se irão tornando cada vez mais pesadas, até que nossos direitos revivam ou expirem numa convulsão.” – Notes on Virginia, question 17, The Writings of Thomas Jefferson, vol. 8, pág. 402.

Em 4 de julho de 1788, o juiz James Wilson pronunciou um discurso, indicando como já estavam operando os inimigos da liberdade:
“Os inimigos da liberdade são astutos e insidiosos. Uma falsificação rouba-lhe [a liberdade] sua investidura, imita suas maneiras, copia sua assinatura, toma seu nome. Mas o verdadeiro nome da enganadora é ‘autorização’. Tal é sua desfaçatez, que acusa a liberdade de impostora; e com audácia desavergonhada insistirá em que só ela é o verdadeiro personagem, e que só ela tem o respeito que tal personagem merece. Para os que estão indecisos e não tenham discernimento, que se deixem impressionar mais profundamente pela impudência que pelo mérito honesto, suas declaração com freqüência têm sucesso. Ela exibe as honras da liberdade, a própria liberdade é tratada como traidora e usurpadora. Mas em geral, essa atrevida impostora desempenha apenas um papel secundário. Embora ela apareça sozinha no cenário, seus movimentos são regidos pela obscura ambição, que fica sentada oculta atrás dos bastidores, e sabe que o despotismo, outro seu favorito, pode sempre seguir ao sucesso da autorização. Contra esses inimigos da liberdade, que agem em aliança, embora parecem estar em grupos opostos, o patriota se manterá sempre em guarda e vigilante.” – The Works of the Honorable James Wilson, vol. 3, pág. 307.

Ameaçados pela dominação eclesiástica. Veja-se que no panorama dos eventos vindouros que passaram diante do profeta João, ele presenciou esta mesma mudança assombrosa na natureza da besta de dois chifres. Começou a falar como dragão e controlar o culto de seu povo “dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta”.
A besta cuja “ferida mortal foi curada” é o papado. Era uma igreja que dominava o poder civil. Em outras palavras, era uma união da Igreja e o Estado, e impunha seus dogmas religiosos por meio do poder civil, sob pena de confisco dos bens, prisão e a morte. Uma imagem da besta seria outra organização eclesiástica investida de poder civil, outra união da Igreja e o Estado para impor pela lei os dogmas religiosos.
Encontramos provas de que tal imagem há de se formar no fato de que já estão operando e têm estado operando com persistência durante anos grandes organizações protestantes influentes cujo fim é estabelecer e impor através de lei certas normas religiosas. Eis algumas delas: National Reform Association (Associação Pró-Reforma Nacional), International Reform Bureau (Departamento Pró-Reforma Internacional), Lord’s Day Alliance (Aliança Pró Dia do Senhor), Federal Council of the Churches of Christ in America (Concílio Federal das Igrejas de Cristo na América). Além disso, as sociedades católicas dos Estados Unidos, segundo sua tradição secular, procuram o mesmo objetivo. Finalmente, estas duas forças estão destinadas a darem-se as mãos em um esforço comum.
A National Reform Association confessa que sua meta é “obter uma emenda na Constituição dos Estados Unidos . . . indicadora de que é uma nação cristã, e colocar todas as leis, instituições e usos cristãos de nosso governo numa base inegavelmente legal na lei fundamental do país.” – David McAllister, The National Reform Movement, Its History and Principles, pág, 16, Constitution of the National Reform Association, art. 2.
Acerca da questão de fazer dos Estados Unidos uma “nação cristã” o bispo Earl Cranston, doutor em teologia da igreja metodista episcopal, fez as seguintes observações num discurso em Washington em 13 de março de 1910:
“Suponhamos que esta nação fosse declarada cristã por uma intervenção constitucional de fato. Que significaria? Qual das duas definições rivais do cristianismo seria a indicada pela palavra ‘cristã’? É claro, a idéia protestante; porque sob nosso sistema as maiorias governam e a maioria dos estadunidenses são protestantes. Muito bem. Mas suponhamos que pelo acréscimo de certos territórios contíguos com doze milhões ou mais de católicos, a anexação de algumas ilhas mais com outros seis milhões, e a mesma proporção de imigrantes que agora, chegassem os católicos a ser a maioria dentro de alguns anos, quem duvida por um momento de que o papa reinante assumiria o controle da legislação e do governo? Diria com toda confiança e lógica: ‘Está é uma nação cristã. assim se chamou desde o começo e se declarou faz muitos anos. Uma maioria definiu então o que era o cristianismo, agora uma maioria definirá o que é o cristianismo e o que há de ser.’ Essa ‘maioria’ seria o papa.” – The Church and the Government, pág. 7.

Esta associação, organizada para realizar uma chamada “Reforma Nacional” não tem problemas em unir-se ao papado para conseguir sua finalidade de estabelecer uma religião nacional. Declara:
“Cordial e prazerosamente reconhecemos o fato de que nas repúblicas sul americanas, na França e outros países europeus, os católicos romanos são os reconhecidos defensores do cristianismo nacional, e se opõem a todas as propostas que tendem a secularizá-los. ... Sempre que estejam dispostos a cooperar para resistir ao progresso do ateísmo político, com prazer lhes daremos a mão. Em uma conferência mundial para promover o cristianismo nacional, que deveria ser celebrado há muito, muitos países poderiam ser representados apenas por católicos romanos.” – Christian Statesman, 11/12/1844, pág. 2.

Levaremos agora em conta o objetivo que outras organizações confessam ter?
Em uma história do International Reform Bureau, ele declara:
“O International Reform Bureau é o primeiro grupo político cristão estabelecido em nossa capital nacional para falar ao governo em favor de todas as denominações.” – History of the International Reform Bureau, p. 2.

Nas págs. 61 e 65 da obra já citada declara-se que a obtenção de leis que tornem obrigatória a observância do domingo é um dos principais objetivos desta e de outras organizações semelhantes.
Falando perante a Comissão Judicial do Senado dos Estados Unidos contra o projeto da Corte Suprema, o Prof. Teodoro Graebner, do Colégio de Concórdia, São Luís, fez esta interessante observação:
“Já faz mais de cinqüenta anos, a National Reform Association procurou . . . tornar cristã toda a educação pública e com isso tornar Jesus Cristo o rei da nação. . . . O movimento existe ainda hoje, e está trazendo à luz uma enorme quantidade de publicações com o fim de conseguir a adoção de uma emenda cristã.” – U. S. Senate Judiciary Committee Hearings, “Reorganization of the Federal Judiciary”, parte 3, pág. 681.

O verdadeiro objetivo desta organização é impor a religião ao povo por meio de uma promulgação legal, obter uma lei dominical e regulamentar o cristianismo do povo.
Um folheto publicado pela organização Lord’s Day Alliance, dos Estados Unidos, expõe seu objetivo:
“(1) Preservar o dia do Senhor [Domingo] para os Estados Unidos; (2) obter uma aliança ativa em cada estado onde ainda não se tenha organizado; (3) induzir o governo em geral até onde se puder que ele dê o exemplo na observância do dia de repouso.”
Isto significa obter, até onde se puder, leis estaduais e nacionais que imponham a observância do domingo, o mesmo meio pelo qual a Igreja obteve o controle do Estado e pelo qual ambos se uniram no século IV e no V da era cristã.
O Concílio Federal das Igrejas de Cristo nos Estados Unidos, que é a combinação mais poderosa e representativa das igrejas protestantes da nação, asseverou em seus começos que representava 18 organizações e 50.000.000 de membros, ao expor as razões de sua existência declarou:
“Que as grandes organizações cristãs de nosso país devem estar unidas . . . [ao tratar] questões como as referentes ao casamento e o divórcio, a profanação do dia de repouso, os males sociais.” – Federal Council of the Churches of Christ in America, “Report of the First Meeting of the Federal Council, Philadelphia, 1908”, págs. 5, 6.

Ao definir como se propunha agir com relação à profanação do dia de repouso, o Concílio declarava:
“Que se resista energicamente a todas as violações dos requerimentos à santidade do dia do Senhor, mediante a imprensa, as associações e aliança pró-domingo, e quanta legislação se possa obter para proteger e conservar este baluarte de nosso cristianismo americano.” – Idem, pág. 103.

Observa-se que a obtenção de leis para impor a observância do domingo é um característico destacado de todas estas organizações em seus esforços para “cristianizar” a nação. Participando destes esforços, muitos não vêem que estão repudiando os princípios do cristianismo, do protestantismo e do governo dos Estados Unidos, e se colocam diretamente sob a mão daquele poder que criou o descanso dominical e obteve o controle do poder civil por meio da legislação dominical: o papado.
Este perigo foi claramente discernido pelos legisladores dos Estados Unidos há mais de um século. Em 1830, consideraram alguns requerimentos para proibir o transporte da correspondência e abertura dos correios no domingo. Tais requerimentos deviam ser dirigidos à Comissão de Correios, nomeada pelo Congresso. Tal Comissão deu um relatório desfavorável que foi adotado e impresso por ordem do Senado dos Estados Unidos, e a Comissão foi relevada de toda consideração ulterior sobre o assunto. Acerca da Constituição dizia:
“A Comissão buscou em vão nesse instrumento uma delegação de poder que autorizasse e este corpo para indagar e determinar que parte do tempo pôs à parte o Todo-poderoso para os exercícios religiosos, ou ainda se fez tal coisa. ...
“A Constituição considera a consciência do judeu tão sagrada quanto a do cristão; e não dá mais autoridade para adotar uma medida que afeta a consciência de uma só pessoa que a de toda a comunidade. O representante que queira violar este princípio perderia seu caráter de delegado e a confiança de seus constituintes. Mesmo que o Congresso declarasse santo o primeiro dia da semana, isso não convenceria o judeu ou o sabatista. Tanto um como o outro ficariam descontentes, e por conseguinte não os converteria.. . . Se por um solene ato de legislação se define em um ponto a lei de Deus, ou se indica ao cidadão um dever religioso, pode-se com igual propriedade passar a definir toda a parte da obrigação religiosa, mesmo as cerimônias de culto, a dotação da igreja e o sustento do clero.
“Os que elaboraram a Constituição reconheciam o princípio eterno de que a relação do homem com o seu Deus está acima da legislação humana, e que os direitos de sua consciência são inalienáveis.” – Correio Dominical, em U. S. House Report, vol. 2, Nº 271, págs. 1-4.

Procuram estabelecer a justiça pela lei. – É uma lástima que os dirigentes religiosos de nossa época já não sejam mais tão sensíveis aos perigos que espreitam em seu programa de conduzir o bom povo mediante a promulgação legal dos dogmas religiosos.
Não desprezamos os nobres serviços que as igrejas protestantes têm prestado à humanidade e ao mundo com a introdução e a defesa dos grandes princípios do protestantismo, a propagação do Evangelho e a defesa da causa da liberdade.
Ninguém pense que queremos lançar sombra sobre o caráter dos homens empenhados nesta obra que consideramos. São homens das mais altas qualidades morais, sinceramente solícitos quanto ao bem-estar da nação, e procuram sinceramente deter ou eliminar os males que pesam na sociedade. Ninguém pode duvidar de que os seus esforços darão frutos em muitos aspectos. Desejamos-lhes todo o êxito possível em sua obra de fomentar a temperança, a eliminação da guerra, a salvaguarda da juventude e outros nobres propósitos afins. Todos os crentes devem orar e trabalhar em favor destas coisas.
Por que então se deixam desviar a ponto de fazer algo contra o qual a Bíblia apresenta uma solene admoestação? A razão jaz em que se afastaram do conselho que Deus dá em Sua Palavra, e estão procurando estabelecer à sua maneira a justiça e o reino de Deus na Terra. Têm desprezado as partes proféticas da Bíblia, pelas quais se pode saber a qual etapa do conflito entre o reino de Satanás e o de Cristo se chegou em sua época, e como pode cooperar com a providência de Deus para os tempos em que vive. Têm cortado sua relação com o Mestre divino e os meios que está empregando hoje para avançar o Seu reino na Terra. Têm um conceito errôneo do reino vindouro, e esperam um reino misturado com elementos terrestres, que será estabelecido por meios terrestres, como o voto, a legislação e a educação.
Em tais circunstâncias não é surpreendente que trabalhem de modo contrário à providência de Deus. é um erro fatal não permitir-se guiar pelas instruções da Palavra de Deus. Quanto maior o zelo de uma igreja quando se extraviou, tanto maior será o mal que causa.
O apóstolo Paulo fala de um tempo em que os homens teriam “aparência de piedade, mas negando a eficácia dela.”
Lamentamos muito ver igrejas protestantes ativas no cumprimento deste quadro profético. Embora lhes falte o poder de Deus, conservam as formas exteriores do culto cristão. Tendo perdido o poder de Deus, cada vez mais recorrem ao Estado para lhes suprir o que falta. Toda a história testemunha que precisamente na proporção em que qualquer organização eclesiástica popular e abrangente perde o espírito e a religião chega finalmente a ser parte do Estado. Assim ocorrerá com a formação da imagem da besta, pois a profecia declara: “E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta.” (Apoc. 13:15).
Se é formada uma organização eclesiástica e o governo a legaliza e lhe dá poder para impor ao povo seus dogmas, que as diferentes denominações podem adotar como base de união, o que temos então? Exatamente o que a profecia representa: uma imagem à besta papal dotada de vida pela besta dos dois chifres, para que fale e aja com poder.
A marca da besta. – A besta de dois chifres impõe aos seus súditos a marca da primeira besta. Foram introduzidos na profecia três poderes que devemos distinguir cuidadosamente para evitar confusão.
A besta papal é o poder designado como "besta", "a primeira besta", "a besta que recebera a ferida da espada e vivia", e "a besta cuja chaga mortal fora curada". Estas expressões referem-se todas ao mesmo poder, e onde quer que ocorram nesta profecia referem-se exclusivamente ao papado.
A besta de dois chifres é o poder introduzido em Apoc. 13:11, e o resto da profecia está representado pelo pronome ela, e onde quer que este pronome ocorra, até o versículo 17 (com a possível exceção do versículo 16, que talvez se refira à imagem), refere-se invariavelmente à besta de dois chifres.
A imagem da besta é chamada nos capítulos seguintes do Apocalipse “a imagem”, de sorte que não há perigo de confundi-la com qualquer outro agente. Os atos atribuídos à imagem são: falar e impor a adoração de si própria sob pena de morte. É o único decreto que a profecia menciona como imposto sob pena de morte.
A marca da besta é imposta pela besta de dois chifres, quer diretamente quer por meio da imagem. A pena ligada à recusa de receber esta marca é o confisco de todos os privilégios sociais, a privação do direito de comprar e vender. A marca é a da besta papal. Contra esta adoração da besta e de sua imagem, e a recepção da sua marca, a mensagem do terceiro anjo de Apocalipse 14:9-12 apresenta uma soleníssima e impressionante advertência.
É, pois, este o acontecimento que, segundo esta profecia, havemos em breve enfrentar. Certas organizações humanas, controladas e dirigidas pelo espírito do dragão, vão ordenar os homens a praticar os atos que constituem na realidade a adoração de um poder religioso apóstata e a recepção do sua marca. Caso se recusem a fazer isto, perderão os direitos de cidadania e ficarão fora da lei do país. Terão de fazer o que constitui a adoração da imagem da besta, ou perder a vida. Por outro lado, Deus envia uma mensagem pouco antes da crise que está iminente, como vemos em Apocalipse 14:9-12, declarando que todo o que fizer estas coisas "beberá do vinho da ira de Deus, que se deitou, não misturado, no cálice da Sua ira." Aquele que recusar sujeitar-se a estas imposições dos poderes terrestres irá expor-se às mais severas penas que seres humanos podem infligir, e aquele que se sujeitar, expor-se-á às mais terríveis ameaças da ira divina, que se encontram na Palavra de Deus. A questão de se obedecerão a Deus ou aos homens será decidido pelos homens da era presente sob a mais pesada pressão, de ambos os lados, que jamais foi feita sobre qualquer geração.
A adoração da besta e da sua imagem, e a recepção do sua marca, deve ser alguma coisa que implica a maior ofensa que se pode cometer contra Deus, para atrair contra si tão severa ameaça. Esta é uma obra que, como já mostramos, ocorre nos últimos dias. Como Deus nos deu em Sua Palavra abundantes evidências para mostrar que estamos nos últimos dias, e para que ninguém tenha de ser apanhado de surpresa pelo dia do Senhor como por um ladrão, assim também Ele deve ter-nos dado os meios por que possamos determinar o que é a recepção da marca da besta, que Ele tão fortemente condenou, para que possamos evitar a terrível pena que certamente se seguirá à sua recepção. Deus não considera tão levianamente as esperanças e destinos humanos, que ameace um castigo extremamente terrível contra certo pecado, e ponha depois fora de nosso alcance compreender o que seja esse pecado, de modo que não tenhamos meios de nos precaver contra ele.
Chamamos, portanto, agora, a atenção para esta pergunta importante: Que constitui a marca da besta? A figura de uma marca é tirada de um antigo costume. Tomas Newton diz:
“Entre os antigos era costume os servos receberem um sinal do seu senhor, e os soldados do seu general, e os que estavam consagrados a qualquer divindade particular, da particular divindade a que estavam consagrados. Estes sinais eram geralmente impressos na mão direita ou na testa, e consistiam em algum caráter hieroglífico, ou no nome expresso em letras vulgares, ou no nome disfarçado em letras numéricas, segundo a imaginação de quem mandava.” – Tomas Newton, Dissertations on the Prophecies, vol. III, pág. 241)

Prideaux diz que Ptolomeu Filopater ordenou que todos os judeus que pretendessem ser registrados como cidadãos de Alexandria tivessem a forma de uma folha de hero (o emblema de seu deus Baco) impresso sobre eles com ferro em brasa, sob pena de morte. (Prideaux’s Connection, vol. II, pág. 78).
A palavra usada para marca nesta profecia é charagma, que significa “gravura, escultura, uma marca inscrita ou estampada”. Ocorre nove vezes no Novo Testamento, e, com a única exceção de Atos 17:29, refere-se sempre à marca da besta. Não vamos compreender, sem dúvida, que se trate de uma marca literal nesta profecia simbólica, mas a apresentação da marca literal, tal como era praticado em tempos antigos, é usada como figura para ilustrar certos atos que se realizarão em cumprimento desta profecia. E do modo como era empregado outrora a marca literal, ficamos sabendo algo sobre o seu significado na profecia, porque entre o símbolo e a coisa simbolizada deve haver alguma semelhança. O sinal, usado literalmente, significava que a pessoa que o recebia era servo ou reconhecia a autoridade ou professava obediência à pessoa cujo sinal trazia. Assim, o sinal da besta, ou do papado, deve ser algum ato ou profissão, pelo qual se reconheça a autoridade daquele poder. Qual é ele?
Características do poder papal. – Naturalmente deve procurar-se em alguma das características especiais do poder papal. Daniel, descrevendo aquele poder sob o símbolo de uma chifre pequeno, fala dele como empenhando-se numa guerra especial contra Deus, destruindo os santos do Altíssimo e cuidando em mudar os tempos e a Lei. O profeta especifica particularmente este ponto: “Cuidará em mudar os tempos e a Lei.” Esta Lei deve certamente ser a Lei do Altíssimo. Aplicá-la às leis humanas e fazer o profeta dizer: “E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo e cuidará em mudar as leis humanas”, seria fazer evidente violência à linguagem do profeta. Mas aplique-se à Lei de Deus: "E proferirá palavras contra o Altíssimo, e destruirá os santos do Altíssimo, e cuidará em mudar os tempos e a Lei do Altíssimo", e tudo se torna coerente e lógico. O hebraico tem dath, lei, e a Septuaginta nomos, no singular, "a lei", o que diretamente sugere a Lei de Deus. O papado tem feito mais do que simplesmente "cuidar" em mudar as leis humanas. Tem-nas mudado a seu bel-prazer. Tem anulado os decretos de reis e imperadores, e desligado súditos da obediência a seus legítimos soberanos. Tem introduzido o seu comprido braço nos negócios das nações e levado governadores a seus pés na mais abjeta humilhação. Mas o profeta vê maiores atos de presunção do que esses. Vê-o procurando fazer o que não conseguia, mas apenas cuidava realizar. Vê-o tentando um ato que nenhum homem nem qualquer combinação de homens jamais pôde levar a efeito, a saber, mudar a Lei do Altíssimo. Tenha-se isto em mente enquanto vemos o testemunho de outro autor sagrado sobre este mesmo ponto.
O apóstolo Paulo fala do mesmo poder em 2 Tessalonicenses 2, e o descreve, na pessoa do papa, como o "homem do pecado", e assentando-se "como Deus, no templo de Deus" isto é, a igreja, e exaltando-se "acima de tudo o que se chama Deus ou se adora". Segundo isto, o papa apresenta-se como alguém a quem toda a igreja deve atender como autoridade em lugar de Deus.
Sugerimos ao leitor que pondere cuidadosamente a questão de como se pode exaltar acima de Deus. Procure através de toda a série de estratagemas humanos, vá até o ápice do esforço humano. Por que plano, por que ato, por que pretensão podia este usurpador exaltar-se acima de Deus? Pode instituir qualquer número de cerimônias, prescrever qualquer forma de culto, exibir qualquer grau de poder, mas se fizer sentir ao povo que está obrigado a obedecer à Lei de Deus de preferência às suas, não tentará estar acima de Deus. Pode publicar uma lei e dizer ao povo que tem tanta obrigação de a acatar como à própria Lei de Deus. E então apenas se fará igual a Deus.
Mas há de fazer mais do que isto, há de tentar levantar-se acima de Deus. Para isso, há de promulgar uma lei que entre em choque com a Lei de Deus, e exigirá obediência à sua própria lei de preferência à Lei de Deus. Não há outro modo possível de poder colocar-se na posição atribuída na profecia. Mas isto é simplesmente mudar a Lei de Deus, e se puder fazer com que esta mudança seja adotada pelo povo em lugar da Lei original, então ele, estará acima de Deus, o Legislador. E é justamente isto o que Daniel diz que o poder representado pelo chifre pequeno faria.
O papado há de realizar, pois, uma obra como esta, segundo a profecia, e a profecia não pode falhar. E quando isto suceder que terá o povo? Duas leis que exigem obediência: uma, a Lei de Deus tal como originariamente foi dada por Ele, como materialização da Sua vontade e expressão das Seus requerimentos para as Suas criaturas; outra, uma edição revista daquela lei, que emana do papa de Roma, e expressando a sua vontade. E como se determinará a qual destes poderes o povo honra e adora? Pela lei que guardar. Se guarda a Lei de Deus como lhe foi dada, adora e obedece a Deus. Se guarda a lei mudada pelo papado, adora esse poder.
Mais ainda: a profecia não diz que o chifre pequeno, o papado, poria de lado a Lei de Deus e daria uma inteiramente diferente. Isto não seria mudar a Lei, mas simplesmente dar uma nova. Ele apenas faria uma mudança, de maneira que a Lei que vem de Deus e a que vem do papado fossem precisamente iguais, com exceção da mudança que o papado fez. As duas leis têm muitos pontos em comum. Mas nenhum dos preceitos que contêm em comum pode distinguir alguém como adorador de um poder de preferência ao outro. Se a Lei de Deus diz: "Não matarás", e a lei dada pelo papado diz o mesmo, ninguém pode dizer, pela observância desse preceito, se uma pessoa pretende obedecer antes a Deus do que ao papa, ou antes ao papa do que a Deus. Mas quando se trata de um preceito que foi mudado, então aquele que observa esse preceito tal como originalmente foi dado por Deus, distingue-se por esse mesmo fato como adorador de Deus; e o que o guarda tal como foi mudado, fica marcado por esse fato como seguidor do poder que fez a mudança. De nenhum outro modo podem distinguir-se as duas classes de adoradores.
Desta conclusão nenhum espírito sincero pode discordar, mas nesta conclusão temos uma resposta geral à pergunta: “Que significa a marca da besta?” A resposta é apenas esta: A marca sinal da besta é a mudança que a besta tentou fazer na Lei de Deus.”
A mudança na lei de Deus. – Vejamos agora que mudança foi essa. Pela Lei de Deus queremos fazer referência à Lei moral, a única Lei no Universo de obrigatoriedade imutável e perpétua. Em sua definição do termo “lei” segundo o sentido em que é quase universalmente usado no cristianismo, Webster diz: “A Lei moral está sumariamente contida no Decálogo, escrito pelo dedo de Deus em duas tábuas de pedra, entregues a Moisés no Monte Sinai.”
Em nosso comentário sobre Daniel 7:25 acerca da predição de que o papado pensaria em “mudar os tempos e a lei”, apresentamos provas do Catecismo Romano baseado na indiscutível autoridade do Concílio de Trento e publicado por ordem do Papa Pio V na imprensa do Vaticano em Roma, para demonstrar que a igreja tinha mudado o dia de repouso do sétimo para o primeiro dia da semana. Embora tal catecismo publica o quarto mandamento completo segundo se lê na Bíblia, e embora o mantenha completo na Bíblia católica oficial em latim, a Vulgata, e nas versões oficiais em outros idiomas, os catecismos usados para o ensino omitem todo o mandamento e no lugar dão a ordem de “guardar domingos e festas”. Em francês mandam “guardar os domingos seguindo a Deus devotamente”, enquanto em inglês costumam citar a primeira frase do mandamento divino: “Lembra-te do dia de sábado”, e logo acrescentam um extenso testemunho acerca de que a mudança do dia de repouso do sábado para o domingo foi feita “por autoridade da igreja católica e a tradição apostólica.” Diga-se o que for acerca do texto do Catecismo do Concílio de Trento e o da Bíblia católica romana que conservam todo o mandamento como está na Escritura, isso não tira o fato de que a prática dos prelados e sacerdotes é ensinar quando muito apenas a instituição do dia de repouso, e situá-la no primeiro dia da semana em vez do sétimo, pela autoridade da igreja.
Tenha-se em mente que, segundo a profecia, ele cuidaria em mudar os tempos e a Lei. Isto claramente sugere a idéia de intenção e desígnio, e torna estas qualidades essenciais à mudança em questão. Mas acerca da omissão do segundo mandamento, os católicos dizem que ele está incluído no primeiro e por isso não deve contar-se como mandamento separado. Acerca do décimo pretendem que há uma distinção tão clara de idéias que requer dois mandamentos, e assim, fazem do não cobiçar a mulher do próximo o nono mandamento, e do não cobiçar os seus bens, o décimo.
Em tudo isto pretendem apresentar os mandamentos exatamente como Deus queria que eles fossem compreendidos, e embora os possamos considerar como erros em sua interpretação dos mandamentos, não podemos apresentá-los como mudanças intencionais. Mas isso não sucede com o quarto mandamento. Acerca deste não pretendem que a sua versão seja igual à que é dada por Deus. Expressamente confessam aqui uma mudança, e também que a mudança foi feita pela igreja. A seguir algumas citações de catecismos ulteriores ao de Trento e que possuem o imprimatur eclesiástico.
Pergunta: Repita o terceiro mandamento.
Resposta: Lembra-te do dia de repouso.
Pergunta: Que ordena o terceiro mandamento?
Resposta: Que se santifique o domingo.”
– James Butler, Catechism, pág. 34.

Outros dizem que a igreja católica mudou o dia de culto. Em um “catecismo de doutrina e prática cristã”, achamos o seguinte em relação com o terceiro mandamento:
Que dia é o dia de repouso?
O sétimo dia, nosso sábado.
Você guarda o sábado?
Não, guardamos o dia do Senhor.
Qual é?
O primeiro dia: o domingo.
Quem o mudou?
A Igreja Católica.”
– James Bellord, A New Catechism of Christian Doctrine and Practice, págs. 86, 87.

No bem conhecido catecismo de Baltimore, encontramos esta explicação:
Pergunta: Qual é o terceiro mandamento?
Resposta: O terceiro mandamento é: Lembra-te do dia de repouso para o santificar.
Pergunta: Que nos ordena o terceiro mandamento?
Resposta: O terceiro mandamento nos ordena santificar o dia do Senhor. . .
Pergunta: São o mesmo o dia de repouso e o domingo?
Resposta: O dia de repouso e o domingo não são o mesmo. O dia de repouso é o sétimo dia da semana, e é o dia que se santificava sob a lei antiga; o domingo é o primeiro dia da semana, e é o dia que hoje se santifica sob a nova lei.
Pergunta: Por que nos ordena a Igreja que santifiquemos o domingo em vez do sábado?
Resposta: A Igreja nos ordena que santifiquemos o domingo em vez do sábado porque no domingo Cristo ressuscitou dos mortos, e num domingo mandou o Espírito Santo sobre os discípulos.”
– A Catechism of Christian Doctrine, Nº 2, preparado por ordem do terceiro Concílio Plenário de Baltimore, pág. 65.

Em outra obra de ensino religioso católico, lemos:
Pergunta: Que justificação temos para guardar o domingo com referência ao antigo dia de repouso, que era o sábado?
Resposta: Temos para isso a autoridade da Igreja Católica e a tradição apostólica.
Pergunta: Ensina a Escritura em alguma parte que se deve observar o domingo como dia de repouso?
Resposta: A Escritura nos ordena que atendamos à Igreja (Mateus 18:17; Lucas 10:16), e que nos apeguemos às tradições dos apóstolos (2 Tessalonicenses 2:15), mas as Escrituras não mencionam em particular esta mudança do dia de repouso.”
– Ricardo Challoner, The Catholic Christian Instructed, pág. 202.

No Catecismo Doutrinal achamos um testemunho adicional:
Pergunta: Tem você outra maneira de provar que a Igreja tem poder para instituir festas de preceito?
Resposta: Se não tivesse tal poder, não poderia ter feito aquilo em que todos os autores religiosos modernos concordam com ela: não poderia ter substituído a observância do domingo, primeiro dia da semana, em lugar do sábado, sétimo dia, mudança que não está autorizada na Escritura.”
– Estêvão Keenan, A Doctrinal Catechism, pág. 174.

Em um epítome de doutrina cristã achamos o seguinte testemunho:
Pergunta: Como você prova que a Igreja tem poder para ordenar festas e dias santos?
Resposta: Pelo próprio ato de mudar o sábado para o domingo, que os protestantes reconhecem; e portanto se contradizem ao guardar estritamente o domingo, enquanto que violam a maioria das outras festas ordenadas pela mesma Igreja.
Pergunta: Como você prova isto?
Resposta: Porque ao observar o domingo reconhecem o poder que a Igreja tem para ordenar festas, e mandar que as observem sob pena de pecado.”
– Henrique Tuberville, An Abridgment of the Christian Doctrine, pág. 58.

Em um catecismo explicado de modo simples, encontram-se as seguintes perguntas e respostas:
Qual é o terceiro mandamento?
O terceiro mandamento é: ‘Lembra-te de santificar o dia de repouso.
Que nos ordena o terceiro mandamento?
O terceiro mandamento nos ordena santificar o domingo.
O dia de repouso dos judeus era o sábado; nós, os cristãos, santificamos o domingo. A Igreja, pelo poder que nosso Senhor lhe deu, mudou a observância do sábado para o domingo.”
– Cônego Cafferata, The Catechism Simply Explained, pág. 89.

É isto o que o poder papal declara ter feito com relação ao quarto mandamento. Os católicos reconhecem claramente que não existe autorização bíblica para a mudança que fizeram, e sim que se baseia completamente na autoridade da igreja. Reclamam como prova ou marca da autoridade de sua igreja o “próprio ato ter mudado o sábado para o domingo”, e o apresentam como prova de seu poder sobre o assunto.
“Mas” – dirá alguém – “eu supunha que Cristo tivesse mudado o dia de repouso.” Muitos pensam assim, porque assim foram ensinados. Só queremos lembrar a estes que de acordo com a profecia a única mudança que jamais devia ocorrer na Lei de Deus ia ser feita pelo chifre pequeno de Daniel 7, o homem do pecado de 2 Tessalonicenses 2; e que a única mudança feita nessa Lei foi a mudança do dia de repouso. Agora, se Cristo fez esta mudança, então desempenhou o papel do poder blasfemo mencionado por Daniel e Paulo, mas esta é uma conclusão inaceitável para qualquer cristão.
Por que alguns tentam provar que Cristo mudou o sábado? Quem o faz realiza uma tarefa que ninguém lhe agradecerá. O papa não lhe agradecerá, porque se for provado que Cristo fez esta mudança, então o papa será despojado da sua insígnia de autoridade e poder. Nenhum protestante verdadeiramente esclarecido lhe agradecerá, porque, se conseguisse, apenas demonstraria que o papado não fez a obra que estava predito que faria e assim a profecia teria falhado e as Escrituras não seriam dignas de confiança. É melhor deixar o assunto como a profecia apresenta e reconhecer a veracidade da pretensão do papa.
Quando uma pessoa é acusada de alguma obra, e se apresenta confessando que a fez, isso é geralmente considerado como suficiente para estabelecer o fato. Assim, quando a profecia afirma que certo poder há de mudar a Lei de Deus, e no devido tempo esse mesmo poder se levanta, faz a obra predita e abertamente declara tê-la feito, que necessidade temos nós de mais evidência? O mundo não devia esquecer que ocorreu a grande apostasia predita por Paulo; que o homem do pecado durante longos séculos teve quase o monopólio do ensino cristão no mundo; que o mistério da iniqüidade lançou as trevas da sua sombra e os erros das suas doutrinas sobre quase toda a cristandade; e que dessa era de erros, trevas e corrupção é que saiu a teologia de nossos dias. Seria, pois, de estranhar que houvesse ainda algumas relíquias do passado a serem postas de lado antes de se completar a reforma?
Alexandre Campbell, falando das diferentes seitas protestantes, diz:
“Todas elas retêm no seu seio - nas suas organizações eclesiásticas, culto, doutrinas e observâncias - várias relíquias do papado. São quando muito uma reforma do papado, e uma reforma apenas parcial. Contudo as doutrinas e tradições dos homens prejudicam o poder e progresso do Evangelho em suas mãos.” – Alexandre Campbell, Christian Baptism, p. 15.

A natureza da mudança que o chifre pequeno tentou efetuar na Lei de Deus é digna de nota. Fiel ao seu propósito de se exaltar acima de Deus, quis mudar o mandamento que, dentre todos os outros, é o mandamento fundamental da Lei, o que torna conhecido quem é o Legislador, e que contém a Sua assinatura como Rei. O quarto mandamento é tudo isso, e nenhum dos outros, está nestas condições. Os outros quatro, é verdade, contêm a palavra Deus, e três deles têm também a palavra Senhor. Mas quem é este Senhor Deus de quem eles falam? Sem o quarto mandamento é impossível dizê-lo, porque os idólatras de todos os graus aplicam estes termos aos numerosos objetos da sua adoração. Com o quarto mandamento indicando o Autor do Decálogo, as pretensões de todos os falsos deuses são anuladas de um só golpe, porque o Deus que aqui ordena a nossa adoração não é qualquer ser criado, mas o Ser que criou todas as coisas. O Autor da Terra e do mar, do Sol e da Lua, e de todo o exército de estrelas, o Mantenedor e Governador do Universo, é quem exige e pela Sua posição tem direito de pretender nossa suprema atenção de preferência a qualquer outro objeto. O mandamento que torna conhecidos esses fatos é, portanto, aquele mesmo que podemos supor que o poder designado como exaltando-se acima de Deus tentaria mudar. Deus deu o Sábado como um memorial de Si próprio, para lembrar semanalmente aos filhos dos homens a Sua obra na criação dos Céus e da Terra, uma grande barreira contra o ateísmo e a idolatria. É a assinatura e selo da Lei. Isso o papado, por seu ensino e prática, tirou do seu lugar e o substituiu por outra instituição, que a igreja apresenta como sinal de sua autoridade.
A decisão entre o sábado e o domingo. – Esta mudança do quarto mandamento deve, portanto, ser a mudança a que se refere a profecia, e o domingo deve ser a marca da besta. Alguns que há muito têm sido ensinados a considerar esta instituição com reverência recuarão talvez com pouco menos do que sentimento de horror perante esta conclusão. Não temos espaço, nem é este, talvez, o lugar para tratar por extenso da questão do sábado, e de uma exposição da origem e natureza da observância do primeiro dia da semana. Sustentamos esta única posição: Se o sétimo dia continua sendo o sábado ordenado no quarto mandamento; se a observância do primeiro dia da semana não tem qualquer fundamento nas Escrituras; se esta observância foi introduzida como instituição cristã, e intencionalmente colocada em lugar do sábado do Decálogo por aquele poder que é simbolizado pela besta, e aí posta como insígnia e sinal do seu poder de legislar para a igreja, não será inevitavelmente a marca da besta? A resposta deve ser afirmativa. Mas estas hipóteses são todas certezas.
Quem recebe a marca da besta? – Dir-se-á ainda: Então todos os observadores do domingo têm a marca da besta? Todos os justos do passado que guardaram este dia têm a marca da besta? Lutero, Whitefield, os Wesleys e todos os que fizeram uma boa e nobre obra de reforma tinham a marca da besta? Todas as bênçãos que foram derramadas sobre as igrejas reformadas foram derramadas sobre as pessoas que tinham a marca da besta? E todos os cristãos que hoje guardam o domingo como dia de repouso, têm a marca da besta? Respondemos: Não! Lamentamos dizer que alguns que pretendem ensinar religião, embora fossem muitas vezes corrigidos, persistem em nos interpretar mal neste ponto. Nunca defendemos isso. Nunca o ensinamos. Nossas premissas não levam a tais conclusões.
Preste-se atenção: A marca e adoração da besta são impostos pela besta de dois chifres. A recepção da marca da besta é um ato específico que a besta de dois chifres há de levar a fazer. A mensagem do terceiro anjo de Apocalipse 14 é uma advertência misericordiosamente enviada com antecedência a fim de preparar o povo para o perigo vindouro. Não pode, portanto, haver adoração da besta, nem recepção da sua marca tal como a profecia indica até que seja imposta pela besta de dois chifres. Vimos que a intenção era essencial na mudança que o papado fez na Lei de Deus, para a constituir a marca daquele poder. Em outras palavras, uma pessoa tem que adotar a mudança sabendo que ela é obra da besta e recebê-la sob a autoridade daquele poder, em oposição à ordem de Deus, antes de que se possa dizer que recebeu a marca da besta.
Mas como ficam os casos, acima mencionados, dos que guardaram o domingo no passado, e da maioria dos que o estão guardando hoje? Guardam-no eles como uma instituição do papado? Não. Decidiram eles entre este e o sábado do Senhor, conhecendo as exigências de cada um? Não. Por que motivo o guardaram ou guardam ainda? Supõem que estão guardando um mandamento de Deus? Têm esses tais a marca da besta? De maneira nenhuma. Seu procedimento é atribuível a um erro involuntariamente recebido da Igreja de Roma, não a um ato de adoração intencional.
Mas como há de ser no futuro? A igreja que deve estar preparada para a segunda vinda de Cristo há de estar inteiramente livre de erros e corrupções papais. Por isso uma reforma há de ser feita na questão do sábado. O terceiro anjo de Apocalipse 14 proclama os mandamentos de Deus, levando os homens ao verdadeiro sábado em vez de ao falso. O dragão está irado, e por isso controla os governos ímpios da Terra e os induz a impor a autoridade do poder humano para fazer que sejam cumpridas as pretensões do homem do pecado. Então a questão a ser decidida fica claramente delineada perante o povo. A Lei de Deus reclama a guarda do verdadeiro dia de repouso; a lei da Igreja Católica, da igreja pseudo-protestante e do país lhe pede que guarde o falso dia de repouso. Aos que recusam guardar o verdadeiro sábado, a mensagem ameaça com a ira de Deus não misturada; aos que recusam o falso, os governos terrestres ameaçam com perseguição e morte. Perante este dilema, que faz aquele que se sujeita à exigência humana? Diz virtualmente a Deus: Conheço as Tuas ordens, mas não as obedecerei. Eu sei que o poder que me ordena a adorar é anticristão, mas eu me sujeito a ele para salvar minha vida. Renuncio a ser fiel a Ti, e curvo-me ao usurpador. Doravante a besta é o objeto da minha adoração; sob o seu estandarte, em oposição à Tua autoridade, me alisto doravante; a ela, em desafio às Tuas ordens, doravante rendo a obediência de meu coração e minha vida.
Tal é o espírito que atuará nos corações dos adoradores da besta, um espírito que insulta ao Deus do Universo em Sua face, e só por falta de poder é impedido de abater o Seu governo e aniquilar o Seu trono. Será de admirar que Jeová pronuncie um procedimento tão desafiante a mais terrível ameaça que Sua palavra contém?
A obra final. – Vimos já o que constituiria uma imagem à besta, tal como a besta de dois chifres há de erigir, e também a probabilidade de que tal imagem em breve seja levantada nos Estados Unidos da América do Norte. Também vimos o que constitui a marca da besta, que há de ser imposto a todos. Uma organização eclesiástica composta de diferentes seitas do país, em aliança com o catolicismo romano, pela promulgação e imposição de uma lei civil para a observância do domingo, cumpria o que a profecia apresenta com referência à imagem e à marca da besta. A profecia requer estes movimentos ou seus exatos equivalentes. A cadeia de provas que levam a estas conclusões é tão direta e definida que não se pode fugir a elas. São uma conseqüência clara e lógica das premissas que nos são dadas.
Quando a aplicação de Apocalipse 13:11-17 aos Estados Unidos foi feita pela primeira vez, em 1850, foram tomadas estas posições acerca de uma união das igrejas e de um grande movimento dominical. Naquele tempo não havia indícios de que se levantaria tal questão. Mas ali estava a profecia. Os Estados Unidos tinham dado abundantes provas, por sua localização, pelo tempo e a maneira do seu surgimento, pelo seu caráter manifesto de que era o poder simbolizado pela besta de dois chifres. Não podia haver erro na conclusão de que era a própria nação a que se referia o símbolo. Mas ali estavam predições indicando uma união da Igreja e o Estado, e a imposição do dia de repouso papal como marca da besta. Não era pequeno ato de fé tomar posição naquele tempo em que os Estados Unidos adotavam uma política sem qualquer probabilidade aparente de fazer tal coisa.
Os fundadores da república americana, ao elaborar suas leis orgânicas, nunca pretenderam que surgisse qualquer perturbação sobre qualquer questão de consciência. A Constituição Federal e a maioria das instituições dos estados contêm cláusulas que garantem a mais perfeita liberdade religiosa. Mas o desenvolvimento do movimento do movimento em favor das leis dominicais desde 1850 demonstra amplamente que a profecia pode cumprir-se apesar das salvaguardas que os pais fundadores da nação levantaram contra a intolerância.
A profecia não especifica exatamente como se desenvolverá a tirania sobre as almas e os corpos dos homens. Pode provir de um homem ou um grupo de homens, políticos religiosos ou de outro caráter. Mas domina a todos – pequenos e grandes. Controla as finanças, pois ricos e pobres sentem seu alcance. Rege a economia, pois ninguém pode comprar ou vender sem sua autorização e sua marca. Impõe a religião, porque obriga a todos, sob pena de morte, a adorarem de acordo com suas leis.
Custa crer que a perseguição religiosa possa manchar a história de uma nação fundada sobre a liberdade para todos. Mas, desde que foi fundada, seus estadistas mais previdentes reconheceram que a tendência de impor os dogmas religiosos por lei civil é muito comum no homem, e tende a provocar perseguição ativa nos lugares mais inesperados. Honra a nação aquele que através da história teve nobres próceres que mantiveram em xeque essa tendência cuja possível manifestação foi prevista pelos fundadores. Mas ninguém pode fechar os olhos para não ver que, ao lado destes nobres esforços, existiram certos dirigentes religiosos zelosos porém mal encaminhados para impor à força usos religiosos.
A profecia prediz que virá um período de perseguição. A besta de dois chifres obriga a todos a receber sua marca e faz matar a todos que não queiram adorar a imagem, quer dizer, ela quer voluntariamente fazer isto e se esforça nesta direção. Faz esta promulgação da lei. Mas isto não quer dizer que todos serão mortos, nem mesmo cremos que serão muitos. Deus intervirá em favor do Seu povo. Os que guardaram a palavra da paciência de Cristo serão guardados de cair nessa hora da tentação (Apoc. 3:10). Os que fizeram de Deus o seu refúgio serão protegidos de todo mal. (Sal. 91:9, 10). Todos os que estão escritos no livro serão libertados (Dan. 12:1). Como vencedores da besta e sua imagem, serão remidos dentre os homens, e elevarão um cântico de triunfo diante do trono de Deus. (Apoc. 14:2-4).

Versículo 18 – Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, porque é número de homem; e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.

O número do seu nome. – O número da besta, diz a profecia, “é número de homem” Se deve ser originário de um nome ou título, é natural concluir que este deve ser o nome ou título de alguma pessoa especial ou representativa. A expressão mais plausível que a nosso ver sugere o número da besta, é um dos títulos aplicados ao papa de Roma. Esse título é o seguinte: Vicarius Filii Dei, “Vigário do Filho de Deus”. É digno de nota que a versão da Bíblia de Douay traz o seguinte comentário sobre Apocalipse 13:18: “As letras numéricas do seu nome compõem este número”. Tirando desse título as letras usadas como numerais romanos temos: V, 5; i, 1; C, 100; i, 1; U (antigamente, V), 5; i, 1; D, 500; i, 1. Somando estes números temos 666.
Tem-se argumentado que o título dos papas devia ser considerado de acordo com o valor que os gregos atribuíam às letras, visto que João escreveu em grego, mas como título aparece em latim, e o latim é a língua oficial da Igreja de Roma e também da Vulgata, a Bíblia adotada por ela, considerar os valores do alfabeto grego anularia o valor numérico daquele título escrito em sua própria língua. O razoável é que o título em latim revele seus valores numéricos em latim e não em grego.

Quanto à prática de representar os nomes por números, lemos:
“Era um método praticado entre os antigos o de representar os nomes por números.” – Matthew Henry, Commentary, vol. III, pág. 1065, Comments on Revelation 13:18.

“Representar números por letras do alfabeto deu origem à prática entre os antigos de representar nomes também por números. Exemplos disso existem em quantidades nos escritos de gentios, judeus e cristãos.” – Adam Clark, Commentary on the New Testament vol. II, pág. 1025, Comments on Revelation 13:18.

“Era um método praticado entre os antigos, o de designar os nomes por números. Por exemplo, o nome de Tot, o Mercúrio dos egípcios, é indicado pelo número 1.218 . . . Tem sido o método usual em todas as dispensações de Deus, que o Espírito Santo adapte suas expressões aos costumes, modas e modismos das várias idades. Portanto, como esta arte e mistério dos números era tão comum entre os antigos, não resulta tão assombroso que a besta também tivesse seu número, e é 666.” – Thomas Newton, Dissertations on the Prophecies, vol. III, págs. 298, 299.

Este título, Vicarius Filii Dei, ou outra forma equivalente, tem aparecido durante séculos com tanta freqüência na literatura e rituais católicos romanos que quase não seria preciso acrescentar outras provas de sua validade e importância. Outras variações do título são: Vigário de Cristo, Vigário de Jesus Cristo, Vigário de Deus. Uma citação do Cardeal Manning, ilustra as várias formas desse título:
“De igual modo dizem agora: ‘Vejam esta Igreja Católica, esta igreja de Deus, insignificante e fraca, rejeitada pelas próprias nações chamadas católicas. Existe França católica, Alemanha católica e Itália católica permitindo essa desacreditada invenção do poder temporal do Vigário de Jesus Cristo.’ Então porque a Igreja parece fraca, e o Vigário do Filho de Deus está revivendo a Paixão de seu Mestre sobre a Terra, somos caluniados e desviamos dEle o nosso rosto.” – Cardeal Manning, The Temporal Power of the Vicar of Jesus Christ, págs. 140, 141 (grifo acrescentado).

Muitas outras variações desse título são usadas em outros lugares no mesmo livro.
Acerca da importância da posição ocupada pelo papa de acordo com o título que consideramos, ou seus equivalentes, citamos a J. A. Wylie, em seu comentário da Apologia de Enodio, escrita em defesa do papa Símaco:
“Encontramos que o concílio [de Roma, em 502, ou 503] convocado por Teodorico tardava a investigação das acusações contra o papa Símaco, pelas razões apresentadas por seu defensor Enodio, a saber, ‘que o papa, como Vigário de Deus, era juiz de todos, e não podia ser julgado, ele próprio por ninguém’. ‘Esta era a apologia – observa Mosheim – o leitor perceberá que haviam sido lançados os fundamentos daquele enorme poder que os papas de Roma adquiriram mais tarde.” – J. A. Wylie, The Papacy, 35 e 36.

Em anos recentes a validade deste título tem sido questionada, mas permanecem evidências históricas de que ele serviu para apoiar a autoridade dos papas ao construírem eles sua vasta supremacia temporal durante o apogeu do romanismo na Idade Média e para manter sua autoridade espiritual até hoje.
O título específico Vicarius Filii Dei apareceu por volta dos anos 752-774 num documento histórico conhecido como “Doação de Constantino”. Embora mais tarde tenha sido provado que este documento foi escrito por outra pessoa e assinado com o nome de Constantino, o Grande, para dar-lhe o peso da autoridade real, de acordo com um costume nos tempos medievais, ainda assim a chamada Doação de Constantino foi usada como válida por pelo menos nove papas num período de sete séculos para estabelecer a supremacia espiritual ou temporal dos bispos de Roma.
O próprio título é uma invenção para designar a posição de Pedro como o primeiro papa em harmonia com a bem conhecida pretensão da Igreja Católica Romana de que as palavras de Jesus registradas em Mateus 16:18, 19, conferiram a Pedro o primeiro bispado da igreja – ponto de vista que os protestantes jamais aceitaram – e que o bispado passou a seus sucessores no trono papal, como está declarado na Doação de Constantino e é mantido pela igreja até hoje. (Cristóvão Coleman, Constantine the Great and Christianity, pág. 178).
O documento empregando o título foi confirmado por um concílio de igreja, diz Binius, alto dignitário católico romano de Cologne, citado por Labbé e Cossart (Sacrosancta Concilia, vol. 1, col. 1.539-1.541). Foi incorporado na lei canônica católica romana por Grassiano, e quando esta última obra foi revisada e publicada, com o endosso do Papa Gregório XIII, o título foi conservado. (Corpus Juris Canonici, Lyons, 1622). Quando Lucius Ferraris escreveu sua esmerada obra teológica em 1755, deu sob o artigo “Papa” o título Vicarius Filii Dei e citou a lei canônica revisada como autoridade. Novamente quando a obra de Ferraris foi revisada, ampliada e publicada em Roma em 1890, o documento e título ainda foram conservados (Lucius Ferraris, Prompta Bibliotheca, [Roma, 1890] vol. VI, pág. 43).
Acerca da obra teológica de Ferraris, citada acima, a Catholic Encyclopedia diz que “permanecerá sempre como preciosa mina de informação.” (Catholic Encyclopedia, 1913, vol. VI, pág. 49, art. " “Ferraris”).
Citamos em continuação o texto em latim do documento Doação de Constantino: "Ut sicut Beatus Petrus in terris Vicarivs Filii Dei fuit constitutus, ita et Pontífices eius sucessores in terris principatus potestatem amphius, quam terrenae imperialis nostrae serenitatis mansuetudo habere videtur."
Cristóvão Coleman traduz este parágrafo da lei canônica de Grassiano como segue:
“Como se vê que o bem-aventurado Pedro foi constituído Vigário do Filho de Deus na Terra, assim também os pontífices que são os representantes daquele mesmo príncipe dos apóstolos, devem obter de nós e de nosso império de poder de uma supremacia maior que a clemência de nossa serenidade terrestre.” – Cristóvão B. Coleman, The Treatise of Lorenzo Valla on the Donation of Constantine, pág. 13.

Uma tradução livre do Professor Edwin Lee Johnson, professor de latim e grego na Universidade Vanderbilt reza:
“Assim como o bem-aventurado Pedro foi nomeado sobre a Terra Vigário do Filho de Deus, semelhantemente os pontífices, seus sucessores, mantêm sobre a Terra o governo principal mais do que Sua Serena Alteza Imperial.”

Assim termina o capítulo 13, deixando o povo de Deus diante dos poderes da Terra em disposição hostil contra ele, e os decretos de morte e banimento da sociedade sobre ele por ter aderido aos mandamentos de Deus. No tempo especificado, o espiritismo estará realizando as suas mais imponentes maravilhas, enganando todo o mundo, exceto os eleitos (Mat. 24:24; 2 Tess. 2:8-12). Esta será “a hora da tentação”, que há de vir, como prova final, sobre todo o mundo, para tentar os que habitam na Terra, segundo o mencionado em Apocalipse 3:10.
O que está em jogo neste conflito? Esta importante pergunta não fica sem resposta. Os primeiros cinco versículos do capítulo seguinte completam a cadeia desta profecia e revelam o glorioso triunfo dos campeões da verdade.

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